UM MARCO NA MODERNIZAÇÃO DE CURITIBA: PESQUISADORA LANÇA LIVRO SOBRE UM DOS BAIRROS MAIS TRADICIONAIS DA CAPITAL PARANAENSE, O ALTO DA GLÓRIA.

O lançamento será dia 19 de abril, no Palacete Leão Jr. e propõe reflexão sobre identidade, memória e história.

Fachada do Palacete Leão Jr. – Foto: Guilherme Pupo

O estilo eclético da arquitetura do início do século XX do Palacete Leão Jr., que alia elementos neoclássicos e influências barrocas, localizado no bairro Alto da Glória, em Curitiba, hoje sede do Espaço Cultural BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul no Paraná atraiu a pesquisadora Amélia Siegel Corrêa, despertando nela o interesse em conhecer a história daquela icônica casa e, por consequência, também a formação do bairro e das famílias que ali viviam.

        Desta curiosidade nasceu o projeto Alto da Glória: fragmentos de uma história desenvolvido em parceria com a historiadora Solange Rocha, que resultou na mais recente edição do Boletim da Casa Romário Martins, publicado pela Fundação Cultural de Curitiba, com prefácio do prefeito Rafael Greca de Macedo e, também em um documentário homônimo.

        O lançamento será no dia 19 de abril, às 18h30, justamente no espaço que inspirou o projeto, o Palacete Leão Jr. A programação conta com a exibição do documentário, um bate-papo da autora com o jornalista e professor da UFPR, Zeca Fernandes e com o arquiteto Key Imaguire, seguida de uma sessão de autógrafos.

“Fiquei maravilhada com a beleza e o requinte da casa, o nível de detalhes das portas de madeira, os vitrais, o teto ornamentado, o chão ladrilhado, a varanda! Quis saber mais sobre como era a vida ali e sobre o contexto em que uma casa como aquela foi construída. Percebi que existiam lacunas na história e uma boa oportunidade para uma pesquisa mais aprofundada”, conta Amélia.

Fontes documentais inéditas, arquivos históricos, jornais, documentos, mapas, livros, imagens, fotografias e entrevistas com descendentes dos moradores e antigos funcionários da casa foram materiais usados na reconstrução dessa memória que conta também parte da história de Curitiba. Tanto o livro quanto o documentário apresentam os principais fatos que envolvem a formação deste tradicional bairro curitibano no qual famílias vinculadas à erva-mate se estabeleceram, e revelam a importância da região como patrimônio histórico e cultural do estado. “A história do Alto da Glória se confunde com a história da modernização de Curitiba, viabilizada em grande parte pela expansão da produção e exportação de erva-mate, que, por sua vez, se configurou a partir de algumas famílias tradicionais do Paraná, responsáveis por investir na cultura e no desenvolvimento da cidade”, diz a pesquisadora.

Os anos iniciais da formação do bairro são repletos de histórias fascinantes, envolveram personagens importantes da cidade, muitos deles, inclusive, nomeiam nossas ruas como: o Desembargador Agostinho Ermelino de Leão, o Comendador Fontana e o arquiteto Cândido de Abreu, que foi prefeito de Curitiba (nos anos 1892/1893 e de 1913 a 1916), entre outros. A pesquisa se preocupou em fazer novas leituras da história propondo um olhar contemporâneo, crítico e abrangente sobre a formação do bairro, incluindo e recuperando a participação de mulheres relevantes como Maria Clara de Abreu Leão, Dolores Leão, Maria Bárbara Correia Leão, bem como de imigrantes, como o italiano Antônio Dallegrave, figura central na construção da Capela da Glória, que ficou pronta em 1896.  

O livro e o documentário trazem registros de quando a área ainda era uma zona de chácaras na qual estava sediada o Engenho Munhoz, que utilizava mãe de obra escrava; passando pela construção do Passeio Público; a criação do Boulevard Dois de Julho, que mais tarde passou a se chamar Avenida João Gualberto. Levanta também a história do Teatro da Glória; da bela Capela de Nossa Senhora da Glória; da Chácara da Nhá Laura, onde atualmente fica o Colégio Estadual do Paraná; bem como da já demolida Mansão das Rosas; da Casa da Chácara, moradia do casal Desembargador Agostinho Ermelino de Leão e Maria Bárbara e, claro, do Palacete dos Leões, que em 1903 virou cartão postal da cidade e, em 1906, residência oficial do então presidente do Brasil, Afonso Pena, durante passagem por Curitiba. Considerando que era a primeira vez que um presidente visitava a capital paranaense, o fato foi um marco histórico.

“Este projeto além de contribuir para a historiografia dos bairros de Curitiba, contribui para a ampliação e divulgação de novas fontes e abordagens historiográficas. Nosso intuito é ampliar o conhecimento sobre o patrimônio histórico de Curitiba, bem como valorizar e fortalecer a identidade local”, ressalta Amélia.

A pesquisa foi além da paisagem, revelou características e descobertas peculiares, como por exemplo a centralidade da prática religiosa diária das famílias da burguesia que ali viviam e que chegavam a dispor de oratórios domésticos e capelas particulares em suas próprias casas, o que permitia a realização de missas e até de casamentos. O conservadorismo e a endogamia como forma de manter o poder entre as famílias também foram traços que apareceram, assim como se evidencia que o protagonismo daquelas mulheres de elite se dava principalmente no ambiente da igreja e nas atividades de filantropia.

Outro apontamento que o livro de mais de 100 páginas traz é sobre a importância da construção de um teatro particular, em meados da década de 1890, em uma das residências do bairro. O Teatro da Glória durou poucos anos, mas contribui para a modernização dos hábitos provincianos dos curitibanos e o avanço da cultura local.

Foi a partir do Boletim Casa Romário Martins que o roteiro do documentário, com duração de 13 minutos, foi elaborado. Em setembro de 2022, o material foi exibido aos alunos do Colégio Estadual do Paraná como contrapartida social do projeto. A ideia foi despertar o interesse pela história local também nas gerações que estão conectadas com a linguagem do audiovisual. O filme com narrativa poética pode ser visto gratuitamente pelo Youtube, no Canal da Fundação Cultural de Curitiba, ampliando assim as referências visuais dos leitores do Boletim.

“Este documentário preencheu uma lacuna que existia porque há muita informação e pesquisa sobre o Alto da Glória no final do XIX e começo do XX, mas nenhum material audiovisual que as compactassem. Ficamos muito orgulhosas com o resultado. E mais ainda de poder realizá-lo com uma equipe majoritariamente feminina”, comemora a pesquisadora.

O Boletim “Alto da Glória – fragmentos de uma história” é um projeto realizado com recursos do Fundo Municipal de Cultura da Fundação Cultural de Curitiba / Prefeitura Municipal de Curitiba. A publicação impressa será distribuída gratuitamente no lançamento. Em breve a versão online estará disponível para download gratuito. O documentário pode ser visto no Canal Youtube da Fundação Cultural de Curitiba: https://youtu.be/6SFHAaIyUoQ

Sobre a pesquisadora

        Amélia Siegel Corrêa é doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo. Autora de diversos artigos e capítulos de livro, publicou ‘Alfredo Andersen: retratos e paisagens de um norueguês caboclo’ (Alameda Editorial, 2014). Atua como curadora e pesquisadora nas áreas de patrimônio histórico, história das exposições, museus, mulheres artistas e História do Paraná. Professora da Pós-Graduação em História da Arte e Curadoria da PUC-PR, é diretora artística da Alhures Galeria.

Serviço:

Lançamento do Boletim Casa Romário Martins e Documentário de Amélia Siegel Corrêa – Alto da Glória: fragmentos de uma história

Data: 19 de abril (quarta-feira)

Horário: 18h30

Onde: Palacete Leão Jr. (Av. João Gualberto, 530 / Alto da Glória)

Quanto: Gratuito

Equipe Técnica do Boletim Casa Romário Martins:

Pesquisa e texto:

Amélia Siegel Corrêa

Pesquisa:

Solange Oliveira Rocha

Consultoria historiográfica: 

Newton Carneiro Neto

Acompanhamento técnico:

Maria Luiza Barracho

Revisão de Texto:

Benedito Costa Neto

Editoração:

Léia Rachel Castelar

Projeto Gráfico e diagramação:

Dayana Salles

Tratamento das imagens:

Adriano Vital

Ilustração da árvore genealógica:

Mónica Defreitas e Nelson Smythe

Créditos Documentário:

Roteiro: Marcela Mussi; Direção: Jaciara Rocha; Assistência de Direção: Eduardo Simões; Direção de Arte: Gabriele Windmuller; Produção Executiva: Amélia Siegel Corrêa; Pesquisa: Solange Oliveira Rocha; Narração Poética: Thaís Aguiar Zeller; Narração Histórica: Amélia Siegel Corrêa; Fotografia: Mariana Boaventura; Captação de Áudio: Nanashara Scaravelli; Montagem/Sound Design/Finalização: Ana Vedovato

Enviado por Glaucia DomingosAssessoria de Imprensa

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