Site Obras de Arte apresenta texto de Rosângela Vig

Obra de Rosângela Vig

Fonte: http://www.obrasdarte.com/a-arte-bela-e-a-arte-sublime-por-rosangela-vig/

 

A Arte bela e a Arte

 
Pelas mãos do artista, o espaço branco vai aos poucos se transformando. Primeiro preenchem-se as formas, depois as cores e a arte vai se delineando pelas imagens, frutos de um pensamento, de um mundo e de um tempo. Ali foram deixadas impressões, sensações e momentos, que jamais poderão se repetir. Do autor, coube a liberdade e a ousadia de criar, para definir os estilos que marcaram as épocas. Ao espectador, cabe se encantar, extasiar-se ou se assombrar diante do trabalho artístico.
 
Flamenco em Vermelho e Preto de Rosângela Vig
 
Por meio da contemplação, a Arte tem a capacidade de despertar na pessoa sentimentos, frutos desse jogo que o artista deixou. Embora não cabe aqui uma definição completa de contemplação, posto que se alongaria demais, pode-se dizer em poucas palavras que é o mesmo que se embrenhar na obra. Mais que isso, é descortiná-la, percebendo-lhe os cheiros, o calor ou o frio e as texturas das coisas ali dispostas, como se fossem reais, como se pudesse tocá-las. Então o espectador deixa que sua sensibilidade aflore no trabalho ali exposto e permite ser levado livremente pelas sensações que foram provocadas em seu ser. Tais impressões proporcionadas pela Arte, e aqui digo a “grande Arte”, podem produzir na pessoa sentimentos relacionados à beleza ou à sublimidade.
 
Kant, filósofo do Século das Luzes, definiu os dois termos de forma bem clara, conforme segue:
 
A noite é sublime, o dia é belo. (…) O dia radiante infunde uma ativa diligência e um sentimento de alegria. O sublime comove, o belo encanta, a expressão do homem dominado pelo sentimento do sublime é séria e, por vezes, fina e assombrada. O sublime apresenta, por sua vez, diferentes caracteres. Por vezes acompanha-o um certo terror, ou também melancolia; nalguns casos, meramente um assombro tranquilo e noutros um sentimento de beleza sobre uma disposição geral sublime. (KANT, 1942, p. 6 – 7).
 
Enquanto a obra bela leva a um entendimento ilimitado, a obra sublime conduz à razão pura, o que o autor chama de chegar à totalidade da compreensão. A obra bela tem o poder de encantar, pela simplicidade e pela sensação de tranquilidade, é encantadora e bucólica; agrada pois os sentidos, pela pureza e pela singeleza. A impressão deixada no indivíduo, na contemplação de uma obra sublime, por sua vez, pode estar representada pelo terror, pela desolação, pelos sentimentos desagradáveis mas também pelos agradáveis, podendo estupefazer por maravilhamento, por pasmo ou por espanto. Enquanto o belo é tranquilizador, o sublime é inquietante.
 
O sublime pode por exemplo, ser verificado na forma bruta entalhada na obra cubista, ao expor uma outra dimensão, em que ângulos, formas e cores se associam, numa espécie de perfeição estética invertida, ligada à grandiosidade e às possibilidades de interpretação. O mesmo se diz de obras imitativas da realidade como Las Meninas, de Velázquez, de 1656, que permite ao espectador incontáveis interpretações quanto às pessoas apresentadas, quanto à forma como o artista se posicionou na obra e ainda, quanto aos objetos apresentados. Deve-se lembrar entretanto, que o termo Arte, aqui mencionado, tem como o exemplo, a pintura, mas abarca outras maneiras que o ser humano encontrou para exteriorizar seus pensamentos e sentimentos, onde incluem-se a Escultura, a Literatura, a Música e a Arquitetura, por exemplo.
 
Enquanto a ideia de ilimitação e a de magnificência se sobrepõem no sublime, por meio da fruição do objeto artístico, ao belo, cabem as sensações prazerosas que tal objeto provocou na pessoa. Em ambos os casos, entretanto, cabe ressaltar, há uma relação intrínseca de tais impulsos com o gosto pela obra, que a cada um se dará de modo particular. Isto, por sua vez, nem sempre está ligado à forma apresentada ou a algum conhecimento a priori ou a posteriori, mas a um saber empírico, relacionado à faculdade de imaginação, que é subjetiva. E, ainda que a apreciação da grande Arte seja adversa, o espectador precisa estar com o espírito tão livre quanto o do autor, para apreender significados e dela extrair novos conhecimentos capazes de metamorfosear seu próprio ser. Ele precisa que sua alma esteja aberta, para o desconhecido, para o novo que, embora possa ser contrário a seu conhecimento, pode lhe proporcionar erudição, capaz de aprimorar sua ética e seu caráter. A Arte permite isso.

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