PUCPR REALIZA EXPOSIÇÃO COMEMORATIVA AO CENTENÁRIO DE IDA HANNEMANN

Encosto as mãos nas estrelas

Tudo apanho entre meus dedos!

(Ida Hannemann de Campos)

Centenário Ida Hannemann de Campos: imaginários, formas e poéticas na arte paranaense.

A artista curitibana Ida Hannemann de Campos nasceu no dia 16 de junho de 1922. Decana do modernismo paranaense, Ida foi desenhista, pintora, gravadora, ceramista, tapeceira e poeta, mas, sem dúvida, a pintura foi sempre a sua paixão, razão pela qual esta mostra centra-se principalmente nas suas pinturas.

Ida foi desenhista, pintora, gravadora, ceramista, tapeceira e poeta, mas, sem dúvida, a pintura foi sempre a sua paixão, razão pela qual esta mostra centra-se principalmente nas suas pinturas e deixa em aberto a possibilidade de uma próxima exposição somente com os seus desenhos e aquarelas.

Suas figuras são leves, coloridas e espontâneas, produzidas pela sua rica imaginação; ela trabalha com os planos transparentes de luz e cor produzindo uma síntese plástica com base na simplicidade e recriando a natureza com uma vivacidade cromática atemporal, desde os seus primeiros trabalhos eles guardam o mesmo colorido intenso e o frescor de suas obras mais recentes.

Ela busca sua inspiração seja nos temas literários, pois foi uma grande leitora, nas tradições populares, nas lendas, nas paisagens e na vida cotidiana. Vivendo toda a sua vida na confluência dos bairros do Bom Retiro, Pilarzinho e Ahú, sua obra é testemunha da sua história de vida iniciada no mundo simples da periferia da cidade de Curitiba, o que não a impediu de sempre participar do meio artístico a partir do seu encontro com seu professor Guido Viaro nos anos 1940. Mas seu trabalho foi sempre de artista solitária.

Foi fascinada pelos pássaros, a gralha azul como signo icônico paranaense, a cor azul, a cidade de Curitiba, a natureza morta e os temas sacros. A cor é para ela o elemento básico, e o quadro é construído pela cor, herança de Viaro, mas que vem afirmar o primeiro preceito da pintura: “pintura é cor”. Ida é a pintora-poeta do cromatismo primaveril. Segundo ela, as suas poesias nascem sozinhas, são espontâneas e por vezes se intercambiam com os quadros ou mesmo, servem de motivo a eles. Foi sempre este olhar sobre as coisas, sobre o mundo, da observação do mundo ao seu redor, algo que lhe chama a atenção se torna poesia, plástica ou verbal.

Esta exposição destaca a sua pintura de paisagem, ela foi uma cronista do desenvolvimento urbano de Curitiba e é, principalmente, na pintura de paisagem que podemos ver todo o nível de experimentação e pesquisa de Ida Hannemann de Campos. Ela vai e vem, como um rio ou uma borboleta azul, de um objetivismo visual, passando pelas experiências da expressividade pictórica, o confronto com o cubismo através da geometrização e a vontade de simplificação e organização do espaço nos seus trabalhos mais recentes feitos na Pedreira Paulo Leminski, sempre com a valorização do pictórico. As suas naturezas-mortas são outro momento de reflexão, simples e despretensiosas nos dizem que a cena é somente um pretexto para mostrar sua virtuosidade que, na geometrização, dialoga com os planos de luz e sombra, como também na pintura do “Menino Azul” de 1960.

Há uma fase religiosa na obra desta artista, testemunha de sua própria vivência e que querem mostrar através da transcendência luminosa todas as possibilidades espirituais. Estes temas continuam, principalmente, nos seus desenhos quando ela inventa uma técnica pessoal, desenhando com uma tinta gráfica sobre papel para depois manchar com um removedor doméstico (à base de petróleo) que dá a impressão de movimento, por exemplo, em “Negação de Pedro” de 1967.

Ida Hannemann de Campos faleceu em Curitiba no dia 3 de março de 2019 e em quase 80 anos de carreira, sempre procurou novos caminhos com curiosidade, simplicidade e criatividade. Trabalhou o traço e a cor nos seus desenhos, aquarelas e pinturas, testemunhados com as suas poesias, mas afirmou ser pintora antes de tudo.

Esta exposição não termina aqui, mas nos convida para continuarmos a admirar a obra da artista no painel em azulejo “Natureza Típica”, de 1994, no foyer da Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Campus Curitiba.

Fernando A. F. Bini

Curador, professor e crítico de arte

Março de 2023

Enviado por Kátia Biesek (coordenadora do Centro de Memória da PUC)

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