Oficina de escrita ‘Ficção Brasil’ propõe exercícios para repensar ideias sobre nação
Atividade ministrada por Julia Raiz e Ronie Rodrigues faz parte das ações do projeto 'Chão Brasil' da Membrana Literária, contemplado por edital de "Literatura - Publicações" da Fundação Cultural de Curitiba
A palavra “chão” possui diferentes sentidos. No significado mais concreto, é a terra onde pisamos. Mas no campo simbólico envolve as fronteiras invisíveis e mutáveis da nossa identidade cultural. E quando “chão” descreve o território que chamamos de Brasil? Questionar essa relação é o estopim da oficina de escrita criativa “Ficção Brasil” ministrada por Julia Raiz e Ronie Rodrigues, integrantes do coletivo Membrana Literária, nos dias 31 de agosto e 1° de setembro, na Casa Hoffmann, em Curitiba. Presencial e gratuita, a atividade já está com inscrições abertas. Serão dois dias de leituras, discussões e ações práticas com o total de oito horas de duração.
A oficina se baseia na intersecção entre estudos sobre corpo, história do Brasil, criação literária e ficcional. Sua transdisciplinaridade reflete a formação da dupla de ministrantes: Julia Raiz é escritora, tradutora, ensaísta e agente cultural, Ronie Rodrigues é escritor e pesquisador em Dança Contemporânea.
Os dois oferecerão exercícios de “restrição poética”, propostas com condições específicas de como escrever a partir notícias de jornal ou da privação de um dos sentidos. A metodologia também buscará aquecer o corpo e as ideias das pessoas participantes com atividades de consciência corporal e sinestésica.
A partir da combinação de propostas de desautomatização do corpo com leituras e descrição da obra de autorias diversas que pensam o Brasil, a oficina buscará estimular a criação literária sobre as duas dimensões da palavra chão – e, com isso, as ficções das ideias de nação, linguagem, identidade e pertencimento.
A ideia é convidar participantes a investigar suas próprias memórias – individuais e coletivas – como podemos inaugurar outros espaços sobre nação, linguagem, identidade e pertencimento. De acordo com Julia, “como coletivo literário de poetas dissidentes, a gente quer trazer ruptura para as essas ideias chamadas de fundamentais para nosso imaginário sobre o que é território e chão. Queremos esgarçar, inverter, mostrar o bagaço e limitações dessas ideias”, afirma.
Mais do que investigar, é importante que a atividade de escrever questione ideias sobre nação, segundo Ronie. Na sua visão, a escrita tem o potencial de revolver e de revólver. “Ou seja, mexer, chacoalhar essas noções de língua e identidade.”
CHÃO BRASIL
Realizar a oficina “Ficção Brasil” é um caminho para ampliar os sentidos da antologia poética “Chão Brasil”, projeto elaborado coletivamente pela Membrana Literária, aprovado no edital “Literatura – Publicações” da Fundação Cultural de Curitiba.
Criada por meio da investigação do que significa ser uma pessoa brasileira no contexto atual, a publicação reunirá poemas e prosas poéticas sobre variadas percepções de brasilidade divididos em três partes: “ofício brasil” traz reflexões sobre as identidades e formas materiais de se presentificar no espaço brasileiro; “biquíni brasil” recorre à ironia, ao humor e ao onírico para interpretar as assombrações brasileiras; já “feridas brasil” debate memórias e dores de viver e escrever aqui.
O livro previsto para ser lançado em novembro deste ano terá 45 poemas escritos por 16 integrantes do coletivo, entre os quais estão Julia e Ronie. Coordenado pela autora e produtora cultural Anna Carolina Azevedo, o projeto incluirá também rodas de leitura e videoleituras de poemas.
Chão Brasil será a quarta publicação da Membrana Literária, que já lançou o envelope Membrana” (2017) e as zines “Corja!” (2019) e “BRA_IL” (2022).
MINISTRANTES
Julia Raiz é trabalhadora da escrita. Doutora em literatura (UFPR) com ênfase nos estudos feministas da tradução, escreve, traduz, grava o podcast Raiz Lendo Coisas e oferece oficinas de escrita desde 2015.
Faz parte do coletivo literário Membrana, está conselheira do Conselho Municipal de Cultura de Curitiba (2021 – 2023) e é agitadora cultural.
Publicou livros e plaquetes: “Diário: a mulher e o cavalo” (Contravento, 2017), “p/vc” (7Letras, 2019), “cidade menor” (Primata, 2020), “Terceiro Mistério” (Lola Frita, 2021) e “Metamorfoses do Sr. Ovídio” (Arte e Letra, 2022).
Ronie Rodrigues é artista transdisciplinar, transitando (promiscuamente) pela dança, literatura, performance, artes visuais e teatro. Integrante do coletivo literário Membrana desde 2022.
Publicou o livro de poemas “Apagar histórias com a língua” pela Editora Urutau em 2021 e o livro Roubar os mortos. Lamber os vivos em 2023.
Graduado em Direção Teatral pela FAP. Especialista em Escritas Performáticas pela PUC (RJ). Criou em parceria com a artista Gladis Tridapalli os trabalhos Cachaça sem rótulo (2015) e Pão com linguiça (2017) e Pátrya (2022).
Foi bolsista residente da Casa Hoffmann e bolsista do programa FIA no CEM- Centro em Movimento – Lisboa.
COLETIVO
Ativa desde 2017, a Membrana Literária é uma grupa interessada na criação de uma rede afetiva, crítica e colaborativa entre pessoas que escrevem.
O coletivo se reúne quinzenalmente para discutir a produção em escrita(s), que transborda para outras linguagens, como artes visuais, audiovisual, música, instalação e performance.
OFICINA FICÇÃO BRASIL
Dias 31/08 e 01/09 (quinta e sexta)
Local: Casa Hoffmann (R. Dr. Claudino dos Santos, 58 – São Francisco, Curitiba).
Data e horário: 31 de agosto e 1º de setembro; 14h às 18h
Gratuito
Vagas limitadas
Inscrições pelo formulário: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSeLCjkHAubozGAKUHmSBQcwyYD7Oo4CWVGQgNYCGaiAjr6ExQ/viewform
(disponibilizado do Instagram @membranaliteraria)
Membrana Literária
Deixe um comentário