JORNAL FOLHA DA MULHER DE FEVEREIRO

Coluna Katia Velo

 

ESCULTURAS DE RON MUECK

A exposição na Pinacoteca de SP é um grande sucesso e atrai um grande número de visitantes.

Biblicamente há a descrição que Deus criou o homem do pó da terra, portanto, metaforicamente, assim, nasceu a escultura. Esculpir formas em madeira, osso, pedra, barro, argila entre outros materiais é uma prática utilizada desde os primórdios. O homem primitivo criava alguns utilitários, mas também figuras para adorar como a Vênus de Willendorf (a escultura de uma mulher com formas exageradamente arredondadas). Os gregos antigos inicialmente fizeram lindos vasos e jarras. E, depois, criaram esculturas como a Vitória de Samotrácia (uma belíssima imagem feminina, sem cabeça, com longas asas) em destaque em frente a uma das escadarias do Museu do Louvre recepcionando-nos. Diz a lenda que Michelangelo ao finalizar a obra “Moisés”, que levou mais de trinta anos para ser finalizada, teria dito “Perché non parli!?” (porque não falas?). Embora, certamente inverídica, é uma história piu bella. Rodin, grande admirador de Michelangelo, criou tão espantosas esculturas através de formas inusitadas e posições impossíveis de serem feitas (torções) como representadas, por exemplo, em “A Mulher de Cócoras”.

No início de janeiro, visitei a exposição do escultor hiper-realista, o australiano Ron Mueck na Pinacoteca. Aliás, isto só foi possível pela mediação de Patrícia Ewald (Comunicação e Marketing da Pinacoteca), pois a espera na fila era em torno de três horas. No entanto, mesmo para os que ardem sob um sol escaldante, a espera é recompensada. Na Pinacoteca estão expostas 09 obras de Mueck. As esculturas surpreendem pelo belo e espantoso realismo. A proposta do artista em redimensionar as escalas, algumas esculturas são pequenas e outras grandes, além da forma em que são apresentadas, como por exemplo, o olhar cansado da mãe em oposição ao do bebê que ela carrega embutido em seu casaco enquanto carrega suas compras, ou do menino negro que parece mostrar uma facada parecem imagens muito próximas no nosso cotidiano. O trabalho de Mueck traz uma carga emotiva e de surpresa que todo artista busca em seus trabalhos.

Além das obras, o documentário Still life: Ron Mueck at work (Natureza Morta: Ron Mueck no Trabalho) apresenta o processo do artista, aliás, o lento e solitário processo. Podemos observar como são feitas as esculturas. As grandes têm uma estrutura de madeira (como se fosse o esqueleto) e depois, trabalha-se com argila, cobrindo-a e umedecendo-a para poder trabalhar repetidas vezes. Depois, num processo minucioso, “a pele” vai sendo feita através de aplicações de resina, fibra de vidro, silicone, acrílico e pinturas sucessivas o que dá o aspecto assustadoramente real, inclusive com brilho nos olhos, só faltou mesmo o cheiro. Mas, um aviso: para quem tem a Síndrome de Stendhal (transtorno psíquico de pessoas muito sensíveis à arte), cuidado, pois podem ter alucinações com estas esculturas, acreditando que elas possam estar vivas!

Pinacoteca do Estado de São Paulo – De 20 de Novembro de 2014 a 22 de Fevereiro 2015. End. Praça da Luz, 02 Tel. 11 3324-1000. Visitação: Terça a domingo das 10h às 17h30 com permanência até às 18h. As quintas até às 22h. Patrocínio: Bradesco. Exposição concebida pela Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris. Curadoria: Hervé Chandès e Grazia Quaroni. Ingresso: R6, 00 reais. Aos sábados a entrada é gratuita.

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