Galeria Estação celebra 20 anos com exposição coletiva no Instituto Çarê, em São Paulo

Antônio Poteiro (1925-2010)
Crédito: João Liberato / Divulgação

Evento reúne oito nomes da galeria com obras em pinturas, esculturas de
madeira e cerâmica (que fazem parte do acervo do espaço) e reforça
parceria com a instituição cultural

A mostra coletiva “Cotidiano, imaginação e paisagem: Galeria Estação, 20
anos” abre no dia 03 de agosto de 2024 (sábado), das 11h até 15h, no
Instituto Çarê, na Vila Leopoldina, em São Paulo. O convite para a
realização do evento foi feito pelo Instituto Çarê, instituição cultural
parceira da galeria desde 2023.

Curada por Taisa Palhares, a exposição tem obras dos artistas
brasileiros históricos Antônio Poteiro (1925-2010), Izabel Mendes da
Cunha (1924-2014), José Antônio da Silva (1909-1996), José Bezerra,
Júlio Martins (1893-1978), Mirian Inêz da Silva (1948 -1996), Nino
(1920-2002) e Noemisa (1947-2024).

O evento celebra a importância da Galeria Estação no cenário da arte
nacional, relacionada à revalorização, ou mesmo a descoberta, de
criadores que permaneceram à margem do sistema institucionalizado da
arte, mas cujas obras carregam um espírito contemporâneo.

Além do caráter histórico, de reunir um grupo de artistas vivos e já
falecidos, há similaridade no que diz respeito ao conteúdo temático
das obras, com a presença marcante da relação entre o homem e o meio
natural, do trabalho rural, do artesanato, das figuras religiosas e do
imaginário das festas populares.

“A presente exposição celebra a atuação da colecionadora e galerista
Vilma Eid, que nas últimas duas décadas tem se dedicado a apresentar
ao público artistas brasileiros por muito tempo subvalorizados por não
pertencerem ao cânone erudito da história da arte. Trata-se, em geral,
de homens e mulheres de origem modesta, que desenvolveram seus trabalhos
artísticos de maneira autodidata e longe dos grandes centros urbanos,
criando um universo imaginativo próprio a partir da vivência da
cultura popular, das atividades laborais tradicionais e da
religiosidade”, afirma a curadora Taisa Palhares.

Parceria
Esta não é a primeira vez que o Instituto Çarê e a Galeria Estação
trabalham juntos, mas em outra ocasião, o artista visual Santidio
Pereira (representado pela galeria) participou da mostra coletiva “Nossa
Vizinhança”, que aconteceu no evento “Ocupação Çarê: Território
Emboaçava”, em setembro de 2023. O Instituto Çarê foi fundado pela
artista visual Elisa Bracher, em parceria com Ana Cristina Cintra, que
tem como principal objetivo a busca, a divulgação e a preservação da
cultura brasileira.

“Minha trajetória no mercado da arte começou em 1984, quando fui
convidada por Paulo Vasconcellos e Torquato Pessoa para ser sócia da
galeria que levava o nome do Paulo. Também apaixonado pela arte
brasileira, dos eruditos aos não eruditos, ele foi meu mestre. Depois
que a galeria fechou, tive um escritório de arte; até que, em 2004, eu
e meu filho Roberto inauguramos a Estação. Comemoramos os vinte anos
de atuação da galeria com esta exposição especial no Instituto
Çarê. Especial porque fala de arte e de amizade”, diz a fundadora e
diretora artística da Galeria Estação Vilma Eid.

Sobre a Galeria Estação
Fundada no ano de 2004 em São Paulo, Brasil, a Galeria Estação inaugurou
um programa curatorial atendendo a uma ampla comunidade de vozes
artísticas não canônicas. Ao criar pontes transgeracionais entre
artistas contemporâneos emergentes e autodidatas pioneiros.

A Galeria Estação inspirou uma rede integradora de figuras criativas e
criadores de diversas geografias e formações educacionais. Desde 2008, o
programa artístico inovador da galeria, instalado em um edifício
arquitetônico, exibe artistas brasileiros contemporâneos cujas origens
culturais e práticas vernáculas complementam a primazia da arte
autodidata – examinando os estilos artísticos sub-representados do país,
trabalhando métodos e narrativas históricas ou até legados.

A diretora artística e fundadora da Galeria Estação, Vilma Eid, em
colaboração com um distinto grupo de curadores convidados, propuseram
diálogos em apresentações que transcenderam os relatos tradicionais do
desenvolvimento de gêneros abstratos e figurativos nos séculos XIX e XX,
iniciando explorações que questionam o que significa constituir o
passado e o presente da arte brasileira.

Como resultado, a Galeria Estação é uma referência no Brasil e
internacionalmente, uma força para a preservação de memórias e
narrativas latino-americanas de outra forma descartadas, marginalizadas
ou negligenciadas nas historiografias da arte brasileira.

Foi por meio desses e outros fatores que a Galeria Estação se tornou
referência em obras únicas e com uma variedade de vertentes artísticas
do Brasil. Continuando também a sua missão de oferecer oportunidades sem
precedentes para que os espectadores experimentem visões expansivas da
arte brasileira. Visões essas tanto locais quanto globais.

A Galeria Estação exibe um grande grupo de artistas históricos: Agnaldo
dos Santos, Agostinho Batista de Freitas, Amadeo Luciano LORENZATO,
Artur Pereira, Chico da Silva, Chico Tabibuia, Conceição dos Bugres,
Elza O.S, Geraldo Teles Oliveira – G.T.O, Gilvan SAMICO, Heitor dos
Prazeres, Itamar Julião, Izabel Mendes da Cunha, José Antonio da Silva,
Madalena dos Santos Reinbolt, Maria Auxiliadora, Mirian Inêz da Silva,
Sebastião Theodoro Paulino da Silva – RANCHINHO, Zica Bergami.

A crescente lista de artistas contemporâneos inclui: André Ricardo, Deni
Lantz, Eduardo Ver, Higo José, José Bezerra, Julio Villani, Rafael
Pereira, Renato Rios, Santídio Pereira, Cicero Alves dos Santos  – VÉIO.
www.galeriaestacao.com.br

Sobre o Instituto Çarê
Organização sem fins lucrativos e centro cultural aberto à cidade, o
Instituto Çarê foi criado em 2019 com a missão de colaborar com o
bem-estar e divulgar a obra de músicos brasileiros de grande
importância, dar centralidade à cultura que escapa do radar do mercado,
formar acervos, apoiar pesquisas em campos negligenciados, salvaguardar
patrimônios relevantes e oferecer à população do entorno um ambiente de
trocas rico e inclusivo. Organiza-se em núcleos de ação coordenada nos
campos de educação, com projetos de educação ambiental e fortalecimento
de comunidades; música, focado em difundir manifestações relevantes;
artes visuais, voltado a fomentar poéticas novas e formar públicos;
pesquisa, que investe na ampliação da base de dados sobre populações
minorizadas para subsidiar políticas públicas; e acervo, que protege,
qualifica e dá acesso a coleções que preservam trechos da história da
cultura brasileira.

Sobre a curadora
Taisa Palhares é professora de Estética no Departamento de Filosofia do
IFCH-Unicamp. Possui graduação (1997), mestrado (2001) e doutorado em
Filosofia (2011) pela Universidade de São Paulo (USP). Realiza estudos
nas áreas de Teoria Crítica, Estética e Artes Visuais, com ênfase na
pesquisa sobre a fundamentação da obra de arte desde a Modernidade. Foi
curadora da Pinacoteca do Estado (São Paulo) de 2005 a 2015, onde
organizou diversas exposições e cursos, entre eles a mostra
retrospectiva itinerante “Mira Schendel” (2013-2014), em parceria com a
Tate Modern (Londres). Recebeu o Prêmio Jabuti (2011), na categoria
“Livro Didático e Paradidático”, pela idealização e organização do livro
“Arte Brasileira na Pinacoteca do Estado de São Paulo” (São Paulo: Cosac
Naify, Imprensa Oficial, 2010). Publicou o livro “Aura: a crise da arte
em Walter Benjamin” com auxílio da FAPESP (São Paulo: Editora Barracuda,
FAPESP, 2006). Realizou a curadoria da exposição “Murilo Mendes, poeta
crítico: o infinito íntimo”, com Lorenzo Mammì e Maria Betânia Amoroso,
no Museu de Arte Moderna de São Paulo (2023). A mostra foi premiada em
2024 na categoria “Melhor Exposição Nacional – 2023” pela Associação
Paulista de Críticos de Arte (APCA). É coordenadora do GT de Estética da
ANPOF (2023-2024). Atualmente é Coordenadora de Graduação do curso de
Filosofia da UNICAMP e organiza o “Grupo de Estudos em Estética e Teoria
da Arte” (GEETA).

Sobre os artistas
Antônio Poteiro [Antônio Batista de Souza] (Santa Cristina da
Posse/PT, 1925 – Goiânia/BR, 2010)
Chegou criança ao Brasil, onde viveu em São Paulo, Minas Gerais e
entre os índios carajás, na ilha do Bananal, fixando-se em Goiânia em
1955. Foi cisterneiro, padeiro, cozinheiro e faxineiro antes de
iniciar-se na arte do barro com o pai, o ceramista Américo de Souza,
que fazia potes e utensílios. Daí o apelido Poteiro. Desejoso de dar
outras formas à matéria, passa a esculpir santos, urnas, animais
sagrados e sonhos. Em 1973, animado por Siron Franco, inicia-se na
pintura, somando temas religiosos e crítica política: em uma Última
Ceia, a mesa é decorada com notas de dólar e libra. Suas obras
estiveram na Bienal de São Paulo em 1981 e 1991 e foram vistas em mais
de vinte países.

Izabel Mendes da Cunha (Itinga-MG, Brasil, 1924-2014)
Filha de paneleira e lavradora, casada com um vaqueiro, começou nos
anos 1970 a produzir seu figurado inicial, com bois, cavaleiros,
passarinhos pousados em galhos e pequenos presépios, que recebiam
engobo de barro branco. A partir de 1978, cria as noivas e noivos,
mulheres amamentando, matronas e moças de grande formato que a
notabilizaram. Com tons de barro diversos, confere extraordinária
expressão às fisionomias caboclas, brancas ou negras. Vendendo a
compradores do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo, foi a única
artista do Vale do Jequitinhonha a alcançar preços minimamente justos
para seu trabalho. Participou de exposições nas capitais do Sudeste
desde os anos 1980, e seu trabalho está representado nos principais
museus de arte popular do país.

José Antônio da Silva (Sales de Oliveira (SP), 1909 – São Paulo,
1996)
Filho do carreiro de bois, só começou a pintar aos 37 anos. Antes,
lutou para sobreviver em serviços árduos no interior de São Paulo.
Casado e com filhos, começou a fazer desenhos a lápis. Em 1946,
vivendo em São José do Rio Preto e trabalhando como garçom, vence
concurso da Casa de Cultura com Boizinhos, óleo pintado em flanela.
Pouco depois, participa de bienais de São Paulo e ganha uma sala
especial na Bienal de Veneza. Quarenta anos no meio rural deixaram forte
marca em sua pintura, na qual predomina a paisagem e o homem entregue
às lides do campo. Em 1975 estabeleceu ateliê em São Paulo. Sua obra
foi tema do curta-metragem Quem não conhece o Silva?, de Carlos Augusto
Calil (1978) e de retrospectiva no Museu de Arte Contemporânea da USP.

José Bezerra (Buique (PE), Brasil, 1952-)
Nascido entre o sertão e o agreste, foi lavrador, trabalhador braçal,
carreiro. Matou bichos para comer e derrubou árvores para fazer lenha,
o que hoje tenta expiar pela arte. Há dez anos sonhou que era chamado a
fazer suas esculturas. Passou a olhar as madeiras que o cercavam e a
intervir nelas. Não esculpe de forma tradicional, trabalhando um bloco
de madeira para alcançar uma forma definida; procura ver a figura que
se insinua no lenho – em geral, umburana – e trazê-la à tona com a
intervenção rude de facão, grosa, formão e serrote. A expressividade
angulosa de seus trabalhos vem da compreensão de que o próprio meio
que contribuiu para seu surgimento, a região do Vale do Catimbau, está
prestes a ser posto abaixo pela mudança acelerada nas relações
econômicas do país.

Júlio Martins [Júlio Martins da Silva] (Icaraí (RJ), Brasil, 1893 –
Rio de Janeiro, Brasil (1978))
Cresceu na roça, mas mudou-se com a família para o Rio de Janeiro
após a morte do pai. Desde garoto, gostava muito de poesia. Jovem,
frequentava teatros e cafés-concertos. Passa por diversos empregos
antes de tornar-se cozinheiro no Hotel Avenida. Começou a pintar com
lápis crayon aos 29 anos. Aposentado, morando no morro União, em
Coelho da Rocha (RJ), passa a se dedicar exclusivamente às telas, agora
usando tinta a óleo. Pinta essencialmente paisagens, a partir de
atentos estudos de folhas, árvores, pássaros, flores, gestos,
vestimentas, animais; as figuras humanas se fundem harmoniosamente em
seu halo verde. Se tudo é delicadeza, idílio, euforia, às vezes
repassada por uma ponta de humor, o pintor não se furta a expor a
angústia histórica do seu tempo.

Mirian Inêz da Silva (Trindade (GO), Brasil, 1948 – Rio de Janeiro,
Brasil, 1996)
A obra da artista reflete vivências diversas, da cultura popular do
interior brasileiro e das sociedades metropolitanas, permeadas pela
cultura de massa. Depois de cursar a Escola Goiana de Artes Plásticas,
estudou pintura com Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. Começou como gravadora, explorando a visualidade do cotidiano; reconhecida imediatamente pelo circuito institucional, participou das bienais de São Paulo em 1963 e 1967. Abandona a xilogravura no final dos anos 1960 e, em 1970, realiza sua primeira mostra de pinturas.
Voltada a aspectos da sociabilidade no meio rural e na cidade, sua obra
volta-se ao que é vivo, festivo, pulsante e corriqueiro, e revela a
preocupação com uma certa brasilidade, buscada na natureza e na
cultura.

Nino [João Cosmo Felix] (Juazeiro do Norte (CE), Brasil, 1920 – 2002)
Antes de dedicar-se à escultura em madeira, começando por brinquedos,
cortou cana-de-açúcar e trabalhou como ferreiro. Em 1974 fazia animais
de madeira com caudas de imburana, cambão ou timbaúba. Na década de
1980 dá o grande salto para esculturas de dimensão maior, de 1 metro
de altura ou mais. No monobloco de madeira, esculpe em alto-relevo ou
recorta pássaros, elefantes, bois, macacos, casamentos e reisados, que
pinta com cores temperadas por ele. Já expôs individualmente no Rio de
Janeiro, e em coletivas como Brésil, Arts Populaires (Grand Palais,
Paris, 1987) e Mostra do Redescobrimento (Oca, São Paulo, 2000). Sua
obra integra importantes coleções públicas e privadas no Brasil e no
exterior. Analfabeto, viveu em Juazeiro do Norte até a morte.

Noemisa [Noemisa Batista dos Santos]  (Caraí (MG), Brasil, 1947 – 2024)
Muito jovem aprende a modelar o barro com a mãe, Joana, paneleira, que
introduziu em Caraí a “moringa-mulher de três bolas”, vasilha para
água com tampa de cabeça feminina e base tripartida. Diferentemente da
mãe e da avó, começa esculpindo figuras, e compõe uma verdadeira
crônica da vida de seu bairro ao reproduzir batizados, casamentos,
moços dirigindo carros. Sua arte é feminina, com delicadas
aplicações de barro claro nos vestidos, na decoração das capelas,
nas toalhas das mesas. Suas esculturas estiveram na exposição Brésil,
Arts Populaires (Grand Palais, Paris, 1987) e na Mostra do
Redescobrimento (Oca, São Paulo, 2000), e integram acervos importantes
de arte popular. Uma das artistas mais originais da arte cerâmica
brasileira, vive isolada e em condições econômicas difíceis.

SERVIÇO RÁPIDO
Mostra coletiva “Cotidiano, imaginação e paisagem: Galeria Estação, 20
anos”
Artistas: Antônio Poteiro [Antônio Batista de Souza] (1925-2010),
Izabel Mendes da Cunha (1924-2014), José Antônio da Silva (1909-1996),
José Bezerra, Júlio Martins [Júlio Martins da Silva] (1893-1978),
Mirian Inêz da Silva (1948-1996), Nino [João Cosmo Felix] (1920 -2002)
e Noemisa [Noemisa Batista dos Santos] (1947-2024)
Curadoria: Taisa Palhares
Parceria: Instituto Çarê
Abertura: 03/08/24 (sábado), 11h até 15h
Visitação: 
até 31/08/2024
De terça a sábado, das 13h às 18h

Local: Instituto Çarê
Rua Doutor Avelino Chaves, 138
Vila Leopoldina, São Paulo – SP, 05318-040
www.institutocare.org.br

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Por marmiroli comunicação, 21 ANOS
Erico Marmiroli

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