EXPOSIÇÃO ‘MUIRAPIRANGA’, DE ELIZABETH TITTON, INAUGUROU NOVO ESPAÇO NA FUNARTE COM OBRAS DE GRANDE PORTE
Em cartaz entre 5/10 e 20/1/2020, a mostra ainda conta com atendimento especial para deficientes visuais
Com o apoio do Funarte SP, a escultora Elizabeth Titton apresenta ao público, desde 5 de outubro, sua mais recente criação: a coleção Muirapiranga. Levando o nome de uma árvore amazônica de madeira vermelha, similar ao pau-brasil, a exposição é uma ode à natureza a partir de esculturas de grandes dimensões feitas em aço corten. A mostra também marca a abertura de um novo espaço de exposições no complexo artístico e tem estruturas dedicadas a pessoas com deficiência visual.
Até 19 de janeiro de 2020, sob o preceito de oferecer aos visitantes a oportunidade de vivenciar as obras de forma potente – levando-os a refletir sobre a crescente cegueira do homem moderno perante o mundo que habita –, 21 obras de grande porte (que variam de 1 a 4 metros de altura) ocuparão 600 m² entre o espaço do pátio, hoje utilizado como estacionamento, e as galerias Flávio de Carvalho e Mario Schenberg.
“Com o projeto da exposição ‘Muirapiranga’ como sua próxima meta de trabalho, Elizabeth Titton procurava um espaço que pudesse receber suas grandes esculturas, sobre as quais falava com paixão. E a equipe da Funarte São Paulo e eu buscávamos possibilidades de transformar o pátio do Complexo em um espaço que recebesse obras de artes visuais, de arquitetura, esculturas, cenários”, explica a ex-coordenadora da Representação Regional da Funarte SP, Maria Ester Lopes Moreira.
As peças produzidas por Elizabeth Titton brincam com os sentidos, na medida em que oferecem a eternidade do metal, acompanhada da efemeridade das formas. O aço corten possui elementos em sua composição que melhoram as propriedades anticorrosivas, garantindo, em média, três vezes mais resistência do que o aço comum. As formas, por sua vez, são portais e obeliscos produzidos nos últimos três anos a partir de corte a laser das peças metálicas. Esse tipo de obra tem sido material de exploração da artista desde 2006. Anteriormente, Elizabeth foi diretora do Museu de Arte Contemporânea do Paraná, nos anos 80, e professora do curso superior de Escultura da Escola de Música e Belas Artes do Paraná por 16 anos, na cidade de Curitiba, onde vive desde os 8 anos de idade.
A premissa desse tipo de produção, que conduz a exposição ‘Muirapiranga’, é impactar o observador por sua originalidade, beleza, significado e dimensões. Para a artista, o “escultor produz a obra para o outro”, ou seja, Elizabeth, sob grande influência do filósofo Merleau-Ponty, acredita que “a percepção é fundamental e o corpo é a ferramenta para isso”. Com isso, ela pretende trazer a realidade à tona e, muito embora a temática seja evidente por si, ela deseja oferecer uma experiência no lugar de um discurso especializado. Neste aspecto, a artista leva elementos como água, árvores, folhas, flores, peixes, pássaros, nuvens e estrelas, que há muito tempo a inspira por meio de seus estudos sobre mitologia das comunidades indígenas do Xingu. Além de valorizar e homenagear o meio ambiente com seus “arcos do triunfo”, ela nos alerta sobre a crescente incapacidade de experimentarmos e enxergarmos o mundo que habitamos.
O fenômeno relativo à cegueira é interpretado por Elizabeth Titton como metáfora da muirapiranga, árvore em risco de extinção, aqui representada pela ferrugem do metal. Na mostra, a vegetação é representada em forma de portais e obeliscos, ícones da civilização, cuja função é homenagear a natureza cada vez mais distante dos olhos, do corpo e do conhecimento dos habitantes das cidades, que cada vez mais vivem num mundo virtual, abstrato, cegos ao mundo em que vivemos.
Nesse sentido, da dificuldade de enxergarmos, sete obras serão impressas em 3D, com aproximadamente 40 cm de altura, para que, além do público em geral, visitantes com deficiências visuais possam perceber e sentir, por meio do tato, o formato das esculturas. Também serão instalados pisos especiais nos espaços da mostra, bem como disponibilizados texto e catálogos em braile e monitores preparados para atender esse público durante o período da mostra.
Ao pensar em sua experiência artística, Elizabeth sempre se baseia em algumas impressões trazidas à reflexão, por Merleau-Ponty, especialmente quando o pensador francês disse: “Quando percebo, não penso o mundo, ele se organiza diante de mim”.
Com mensagens gravadas nas paredes dos espaços da Funarte, citações escolhidas pela artista do filósofo francês, estudado por ela em profundidade quando de sua pesquisa de mestrado em Educação na UFPR (Universidade Federal do Paraná), Elizabeth coloca o público diante da presença material e impactante de suas obras, levando-o a confrontar a materialidade do aço que, em seu design simples e de fácil reconhecimento, remete à natureza, na intenção de conduzir ao mundo encarnado do qual fala o filósofo.
A artista quer completar a experiência de perceber o mundo, conforme o pensamento de Merleau-Ponty, alertando de que a ciência é sua expressão segunda, pois, primeiro, existem os rios e as montanhas, depois os mapas que as representam.
“Sensível e envolvida com sua criação, Elizabeth Titton enfatiza em sua proposta que a experiência oferecida pela exposição pode ser experimentada por todos. Olhar, tocar, caminhar no seu entorno, bem como sentir a frieza do metal, é como a artista nos convida a estar na exposição. É assim também que nós da Funarte convidamos a todos para estarem no Complexo Cultural e dividir conosco essa reflexão acerca do nosso estar no mundo como natureza e obra de arte”, comenta Maria Ester.
Tendo em mente que a arte deve ser fruída antes de ser pensada, Elizabeth convida a voltar ao mundo vivido em uma experiência estética que parte de um mergulho na floresta de aço criada no solo do importante espaço de cultura paulistano.
SERVIÇO
Funarte SP
Endereço: Alameda Nothmann, 1058.
Horário de visitação: terça a sexta, das 10h às 18h; sábado e domingo, das 14h às 21h
Ingresso: gratuito
Término: até 19 de janeiro de 2020
Obrigada!!!!!!!!