Exposição Além do Visível apresenta contextos da guerra e a perda da visão
Com um estilo artístico próprio e especial, a mostra trabalha a inclusão em sua composição para representar as diferentes maneiras de se enxergar o mundo
Por Emanuelle Spack
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A história de vida de um grupo de refugiados angolanos cegos foi a principal inspiração para a artista incluir acessibilidade na exposição. Pensando na dificuldade que um deficiente visual tem ao visitar um museu ou uma galeria de arte, a artista visual e sócia proprietária do Circular Atelier Colaborativo, Nani Silveira, resolveu incluir em sua mostra obras com perspectivas do universo das pessoas cegas ou com baixa visão. “Além do Visível”, tem curadoria de Luiz Lavalle Filho e está aberta de 27 de novembro a 20 de dezembro, noEspaço de Arte Francis Bacon, em Curitiba.
A artista priorizava em seus trabalhos a pintura em acrílica, mas quando surgiu o interesse por esse estudo para a conclusão do curso de graduação em Pinturas, ela se dedicou e começou a explorar várias técnicas como forma de investigação para saber qual delas conseguiria se comunicar melhor com esse grupo de espectadores. “Durante a pesquisa realizei desenhos com pregos, explorei a pintura com tinta expansível, escultura em resina, desenhos na máquina de costura, bordados, entre outros”, conta Nani que aborda o contexto da guerra nesta mostra de arte.
A exposição é trabalhada em várias séries que promovem reflexões sobre o acesso às obras de arte por todos os espectadores e a possibilidade que ela traz de comunicação e aproximação de universos distintos. “Mais que a apreciação estética e visual é um convite à exploração e se permitir a uma experiência singular com as obras que trazem etiquetas e textos em Braille”, diz Nani revelando que esse trabalho trouxe motivação para sua vida para novos desafios buscando sempre o que tem para além da visão, do estético e, principalmente, tentar entender e se colocar no lugar do outro.
As etapas de construção da mostra Além do Visível
Série 1 – “Além do Visível” retrata pinturas com referências em fotos de alguns dos integrantes do coral Vozes de Angola e outras que têm relação com o contexto da guerra. São as primeiras pinturas realizadas no início da pesquisa e todas têm contorno para serem exploradas pelo tato.
Série 2 – “Re-tratos Previsíveis” exibe desenhos feitos com metais e fios de algodão sobre chapa de madeira preta. Nesse trabalho os diferentes materiais se destacam pelas texturas e temperaturas diversas. Ela traz questões que são repetidas de geração em geração entre os africanos.
Série 3 – “Presente” apresenta uma instalação de parede com uma mão feita em resina transparente segurando uma granada feita em impressão 3D dourada. Traz a subjetividade de um signo que representa tanto poder e destruição, mas aqui a artista representa-a como um presente, um ouro de tolo, com uma beleza delicada e reluzente.
Série 4 – “Poesias Invisíveis” é a última série da atual produção que mostra 7 telas com fundos e com bolinhas coloridas, compondo poesias concretas em Braille. Evidencia a ironia entre o signo do Braille que não é entendido pelos videntes e as cores que não são entendidas ou vistas pelos cegos. Assim, os cegos entenderão o que está escrito, mas os videntes não, ao mesmo tempo que a artista explora estudo da teoria da cor. Aqui está disponibilizado o alfabeto Braille para os espectadores traduzirem as palavras escritas.
Sobre a pesquisa para a realização do TCC
Nani Silveira acompanhou mediações para deficientes visuais em exposições no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Visitou e recebeu orientações do Setor de Braille da Biblioteca Pública do Paraná. Em 2015 conheceu e acompanhou o trabalho do Coral Vozes de Angola com angolanos que são cegos ou com baixa visão. Se inteirou conhecendo pessoalmente o trabalho da artista visual e fotógrafa Juliana Stein que realizou uma oficina de fotografia para deficientes visuais na Biblioteca Pública do Paraná e visitou o Atelier da Teca Sandrini, artista visual, ex-diretora no MON que participou da implantação do projeto “MON Para Todos”. Como objeto de conclusão de curso, Nani Silveira produziu um vídeo com o título “Percurso Sonoro” que possibilita a construção mental pelos cegos através da narrativa sonora, possibilitando assim, uma forma de comunicação com os espectadores cegos, presente na mostra.
Sobre a artista:
Bacharel em Pintura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná – EMBAP/UNESPAR, a artista visual Nani Silveira participou de várias exposições coletivas e salões de artes, sendo o mais recente o XXV Salão Curitibano de Artes Visuais.
Serviço
Exposição Além do Visível
Data: de 27 de novembro a 20 de dezembro de 2018.
Local: Espaço de Arte Francis Bacon – Ordem Rosacruz (AMORC)
Endereço: Rua Nicarágua, 2620 – Bacacheri – 82515-260 – Curitiba, Paraná.
Entrada: Franca
Horário: de terça a sexta-feira das 13h30 às 17h.
Facebook: https://www.facebook.com/espacoartefrancisbacon/
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