ENTREVISTA COM MARIA MARTA FERREIRA
Maria Marta Ferreira é psicóloga, autora de livros sobre comportamento, escreve para colunas de revistas e sites. Ministra Cursos e Palestras em vários estados do Brasil. É diretora da clínica Psicobela – Saúde Emocional e do site www.psicobela.com.br e comentarista semanal sobre relacionamentos no Programa Light News (Transamérica Light 95,1- FM) e Fale com Maria – TV Evangelizar é Preciso com Maria Rafart.
A seguir entrevista, prontamente atendida por e-mail, com Maria Marta Ferreira.
Katia Velo – O seu interesse pela psicologia aconteceu de que forma?
Maria Marta Ferreira – Costumo dizer que não escolhi a Psicologia, mas a Psicologia me escolheu. Não tinha grandes planos, nem mesmo sabia desde pequena, o trabalho que desenvolveria na vida. Eu desejava trabalhar, construir um caminho. Cursei Psicologia um pouco mais tarde, visto que minha chegada em Curitiba aos 17 anos, tinha como missão inicial o trabalho. Com 21, 22 anos motivada por uma amiga fomos fazer vestibular, entre Serviço Social e outras opções estava a Psicologia. Fiz a faculdade com muito empenho e grande paixão. Atravessei dificuldades financeiras no percurso e me comprometi que não desistiria de trabalhar com a Psicologia e viver dignamente desse trabalho. Logo no início da carreira, me formei em 98, iniciei estudos na área do comportamento alimentar, e a partir daí, empenhei-me integralmente. Foram projetos, pesquisas, livros, cursos, palestras e especialmente a clínica, um caminho de crescimento de mão dupla, em que terapeuta e paciente, nunca saem de um processo da mesma forma que entraram. A transformação é evidente. Sou muito grata pelo privilégio de realizar esse trabalho.
KV – Apesar de estarmos no séc. XXI ainda há alguma resistência do brasileiro, especificamente do paranaense, em procurar um psicólogo ou psiquiatra?
MMF – Infelizmente sim. O trabalho com a psicologia clínica especialmente, se expressa pela subjetividade e muitas vezes torna-se difícil ver o fruto dessa relação de ajuda. São as pessoas que convivem com quem está ou fez terapia que veem as mudanças e muitas vezes são inspiradas a buscar terapia também. A sugestão de buscar terapia muitas vezes parte de um amigo, de alguém que já viveu essa experiência. Ou quando já se tentou de tudo sem muito êxito. O motivo de procurar terapia, geralmente reside no sofrimento, o mesmo que possibilita a travessia para mudança. Felizmente temos corroborado com esta mudança, com ações da psicologia em formas de livros, revistas, programas de TV e rádio que têm motivado e esclarecido a importância desses serviços na vida pessoal e social. Psicólogos e psiquiatras podem e devem trabalhar em parceria. Uma terapia ganha muito com suporte medicamentoso, bem orientado, nos casos em que é necessário, e uma medicação faz muito mais por um paciente terapeutizado.
KV – Quando há tantos livros de autoajuda, você não teme este tipo de comparação como o seu livro “Ser Feliz Não é Pecado”?
MMF – Um dos grandes ganhos de uma boa psicoterapia é o desenvolvimento da individualidade. Respeitar aquilo em que acreditamos, por força nas lutas que escolhemos. Aos 41 anos, me importo bem menos com os julgamentos alheios. Esse livro surgiu de um período de reflexões como indivíduo em crescimento e trabalho. Não tenho pretensões de mudar a vida de alguém, o escrevi porque estava observando minhas próprias transformações e falando alto das minhas reflexões. É antes de tudo uma homenagem a minha mãe e uma forma de honrar as pessoas de fé, a quem muito admiro.
KV – Nas redes sociais, o excesso de exposição e a obrigação de se mostrar sempre bem e feliz pode afetar a nossa percepção sobre a felicidade?
MMF – Acredito que sim. Mas, vejo um lado positivo nisso, que é aprender a curtir e valorizar pequenas experiências da vida. Mas, com o excesso corremos o risco de banalizamos o significado. Há uma enorme confusão entre prazer e felicidade. Aquisições materiais, viagens festas podem ser experiências prazerosas, mas não necessariamente felicidade. A felicidade se concentra em dar sentido às experiências, a ter um objetivo na vida, em gostar da própria história, amar, sofrer, ter alegria e dor e no saldo ter motivo pra brindar e gratidão pra expressar. Nas redes sociais temos recortes de prazeres e também de felicidade, precisamos da sabedoria pra saber a distinção entre uma e outra.
KV – É possível dar dicas para ser feliz, quando a felicidade é algo tão pessoal e subjetivo?
MMF – A dica é: saiba o que te faz bem e o que te faz mal. O autoconhecimento permite-nos aprender a olhar pra nós mesmos e aprender, e nos comprometermos com aquilo que faz sentido pra gente, que nos faz bem, sem fazer mal a alguém. Buscar tudo fora da gente, com uma variedade tão absurda de possibilidades, certamente, vai produzir confusão, exaustão e insatisfação. Não dá para ser feliz o tempo todo. Precisamos aprender a ter tolerância com os dias ruins, as fases difíceis. Não que isso seja fácil, mas ajuda muito e é possível. A ilusão, a utopia do “sempre bem”, rouba-nos a oportunidade de aproveitarmos o “bem de agora” ou do “próximo dia a caminho”.
KV – Como o título do seu livro diz “Ser Feliz Não é Pecado”, afinal, é um mandamento cristão não é mesmo, ou seja, “Amar o próximo como a si mesmo”?
MMF – Vivemos em uma sociedade perfeccionista e competitiva. Temos a obrigação com o belo, o jovem, o próspero, disfarçamos a competição chamando-a de produtividade. Tudo bem, isso tem sua vertente positiva. Mas a vida tem o bem e o mal, tem o triste e o alegre, o bonito e o feio. A vida é feita de dualidade, e amar de alguma forma significa respeitar isso. As grandes tragédias ocorreram e ocorrem por intolerância e isso é falta de amor, de respeito ao diferente, ao próximo. Temo pelas tantas bandeiras levantadas com atitudes extremistas: “é preciso ser isso ou aquilo”, e se não adotarmos uma bandeira é porque “somos em cima do muro”. Amar a si mesmo e ao próximo são como os dois pratos de uma balança, o respeito é o fiel dessa balança. É preciso lembrar que ao cuidar apenas de si desequilibra os pratos e cuidar apenas do outro ocorre o mesmo. É preciso aprender a fazer o bem pra si mesmo e para o próximo, para o próximo e pra si mesmo. Isso equilibra as coisas, e a vida já mostrou que isso funciona bem!
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