EDUCAÇÃO PARA AS MÍDIAS SOCIAIS: QUAIS OS PAPÉIS DOS PAIS E DA ESCOLA?
O uso seguro da internet pelo público infantil e juvenil depende da forma como os adultos que com ele interagem vão orientá-lo e monitorá-lo. Especialistas na área, como a advogada Gianna Calderari e a psicopedagoga Isabel Parolin, apontam, a convite do Colégio Sion Curitiba, quais os desafios e benefícios das mídias sociais para educadores, pais e filhos
Crianças e adolescentes são familiarizados com a internet cada vez mais cedo. A rede mundial de computadores e seus diversos recursos, em especial mídias sociais como blogs, facebook, instagram, youtube, messenger, whatsapp e tantas outras, fazem parte em alguma medida do cotidiano do público adulto e também do universo infantil e juvenil. “Pais e educadores utilizam naturalmente a internet em seu cotidiano. Assim como seus filhos e alunos. Considerando assim ser este um meio difundido na sociedade, cabem algumas questões importantes para que a imersão de crianças e jovens no ambiente online seja mediada e acompanhada com responsabilidade pelos adultos”, aponta a coordenadora de comunicação e marketing do Colégio Sion Curitiba, Juliana Pedroso.
Atento a esta questão, o colégio vem tomando iniciativas correntes para abordar com clareza e foco este tema, promovendo inclusive treinamentos e palestras envolvendo pais e educadores, para que tenham uma abordagem coesa e produtiva do tema em casa e na sala de aula. Uma das iniciativas recentes foi a palestra “A construção do aprendiz: da obediência à autonomia”, realizada em setembro com a participação da psicopedagoga Isabel Parolin, com a presença de pais e responsáveis dos alunos da Educação Infantil ao Ensino Médio.
“É inconteste que as mídias sociais são um sucesso. São um instrumento social, de aproximação da pessoa com o conhecimento. A grande questão é: como as pessoas têm usado as mídias sociais?”, aponta Isabel Parolin. “Por exemplo, o grupo de mães do whatsapp. Tem sido muito mais um meio que atrapalha do que uma fonte de informação. Por quê? A nossa sociedade hoje tem a tendência a ser impulsiva. A pessoa quando lê uma notícia pelo whatsapp, tem por tendência responder impulsivamente, sem ter o aprofundamento dos conhecimentos referentes ao que motivou aquele post. Este é um aspecto negativo. Outro deles, com que todos nós temos de tomar cuidado, é que existe uma oferta muito grande nas mídias sociais de tudo quanto é tipo de coisa, então, pais, escola, a sociedade de forma geral, têm que aprender a selecionar, a se autorregular frente a esta abundância e também às abordagens que as mídias sociais nos oferecem”, alerta.
BENEFÍCIOS E DESAFIOS
“Vemos o crescimento de fake news, também de alguns youtubers que trabalham com uma comunicação sem informação que agregue. Os pais às vezes não sabem que conteúdo circula por ali. Ou, se sabem, muitas vezes não combatem porque não prestam atenção, ou não fazem uma ligação do quanto seu filho vai se influenciar por aquele youtuber. Mas, de modo geral, é um avanço social. Os instrumentos e as mídias na educação vieram para agregar. Se não estão agregando, a culpa é da nossa sociedade, dos adultos, que não estão conseguindo parar e pensar sobre isso”, considera.
Para a psicopedagoga, o grande benefício das mídias sociais é que as pessoas passam a ter acesso ao que desejarem. “O perigo, por outro lado, é não saber escolher. Por isso o adulto mediador, que está consciente, que está atento ao que seu filho está consumindo, é bastante importante”, pondera. “Precisamos desenvolver estratégias de formação para que os filhos consigam se autorregular frente a esta profusão toda. Mas o fato é que parece que, ainda, nem os adultos conseguiram”, reflete.
PAIS E ESCOLA
Na visão de Isabel Parolin, a escola tem sido a grande parceira da família, no sentido de ajudar os pais a estarem orientados para um uso positivo pelos filhos das mídias sociais. “Aos pais, é preciso que estejam atentos, com a escuta qualificada, observando seus filhos conversarem. Os pais hoje são muito distantes. Têm dificuldade de se aproximar. Primeiro porque os filhos estão muito nos seus equipamentos. E os pais também estão. Mas a família precisa estar atenta a estas questões. Isso promove distanciamento”, observa. “A proximidade, por sua vez, se dá na intimidade. E a intimidade se dá quando eu posso falar coisas, sérias, bobas, brincadeiras, enfim, partilhar pequenas coisas: refeições, aquela conversa que surge no momento de fazer o jantar, de lavar uma louça, isso é precioso para uma família. Ela constrói pertença nestes momentos e é através da pertença que uma pessoa se individua, consegue fazer sua individuação”, salienta.
A psicopedagoga propõe aos pais que estabeleçam os termos com seus filhos sobre como utilizarão seus equipamentos de comunicação. “Muitos pais acusam os youtubers de conteúdos duvidosos, assim como os jogos online, enfim, culpam os equipamentos que eles mesmos dão aos filhos. Quando damos um celular para um filho temos que formular também um contrato: como isso vai ser utilizado”, sugere. “A tecnologia, os espaços que ela propicia, é um avanço social. O que não podemos perder de perspectiva é que o ser humano se constrói em relação e é este relacionamento que fortificará a criança, o jovem, para saber fazer suas escolhas. Inclusive, escolher em que momento ele vai dizer ‘vou desligar isso aqui, porque em família está melhor’”, assinala.
CYBEREDUCAÇÃO
A advogada Gianna Calderari, especialista em segurança na internet, traz orientações valiosas, para aplicar no dia a dia. Ex-aluna do Colégio Sion Curitiba, ela realiza workshops e palestras a respeito do uso da internet e das mídias sociais. “Vivemos em um mundo onde o ‘boom’ de informações é enorme e a velocidade com que essas informações nos chegam é surpreendente. As escolas e os pais da geração que recepcionou este mundo virtual tiveram que nele se inserir e sempre se atualizar para estar a par da utilização, para poder orientar seus alunos e filhos. É um universo de extrema utilidade e por isso as escolas vêm cada vez mais se inserindo e se preocupando com a forma de utilização das mídias sociais, para que seja feita de forma consciente, correta e boa. Impor regras, dialogar, orientar abertamente e promover palestras mais específicas são algumas das atitudes já presenciadas”, analisa Gianna Calderari.
Para ela, os benefícios das mídias sociais “são inúmeros, podendo-se ressaltar a conexão com o mundo todo, com as mais variadas culturas, com o ‘agora e ao vivo’, com a comunicação e a troca de informação instantânea”. Na sua visão, o uso das mídias sociais pela escola e pelos alunos são uma forma de prepará-los também para as mudanças da sociedade e para o mercado de trabalho. “Já os desafios são justamente o conteúdo das orientações que devem ser repassadas aos alunos, pois precisam ser muito claras no sentido de que a utilização das mídias sociais seja feita de modo que propaguem coisas boas, úteis e, principalmente, de forma segura. E, ainda, um grande desafio para os professores é de que consigam acompanhar o tempo e passar esse tipo de conhecimento para uma geração que já nasce praticamente online.”
A respeito desta questão, Gianna Calderari lembra que as mídias sociais não são um fenômeno que possa ser ignorado. “O mundo virtual faz parte da vida. A escola o utiliza. Os alunos o utilizam. Os pais o utilizam. Portanto, o assunto é de suma importância e deve ser abordado de modo que oriente os alunos sobre as consequências de sua má utilização, assim como quanto aos cuidados com o alto nível de exposição que ocorre na rede, deixando os usuários em situações frágeis e de perigo”, destaca.
Em casa, aos pais, ela aconselha que busquem participar ao máximo, presencialmente, do cotidiano dos filhos. “Os pais podem lidar melhor com a questão das mídias sociais participando muito, e ao vivo, da vida dos filhos, atualizando-se quanto aos assuntos, como jogos, aplicativos e funcionamento dos eletrônicos usados em casa. E, principalmente e mais importante, dialogando.”
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BOX
Guias, materiais e conteúdo sobre internet segura para baixar na internet.
Existem conteúdos específicos para uma internet segura, voltados de forma direcionada aos país, aos educadores, às crianças e aos adolescentes, disponibilizados no portal Internet Segura (https://internetsegura.br), do Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGI.br), que “reúne iniciativas de conscientização sobre segurança e uso responsável da Internet no Brasil, auxiliando os internautas a localizar as informações de interesse e incentivando o uso seguro da Internet”. No portal, há cartilhas direcionadas para todos os públicos relacionados com a educação para uma internet segura, com dicas e orientações fáceis de aplicar e que contribuem de modo expressivo para o uso consciente da internet. Seguem algumas indicações, encontradas no portal e também em outros canais:
– Para crianças: https://internetsegura.br/pdf/guia-internet-segura.pdf
– Para adolescentes: https://internetsegura.br/pdf/encarte_adolescente.pdf
– Para pais, com filhos crianças: https://internetsegura.br/pdf/guia-internet-segura-pais.pdf
– Para pais, com filhos adolescentes: https://internetsegura.br/pdf/internet_com_responsa.pdf
– Para pais e educadores em geral: https://cartilha.cert.br/fasciculos/
– Para pais e educadores em geral: https://www.essemundodigital.com.br/
– Para pais e educadores em geral: https://cgi.br
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