DIA NACIONAL DO LIVRO | Uma resistência poética feminina

Poesia é resistência em tempos tão duros, porque há algo de transcendente nela e nos seus autores. No Dia Nacional do Livro, em 29 de outubro, a leitura de poesia! A minha sugestão é Florbela Espanca, cuja expressão poética nos convida a refletir sobre o amor, a devoção e o erotismo de uma forma deslocada do tempo.

Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial / Divulgação

No Dia Nacional do Livro faço um convite a transformar essa efeméride importante para refletirmos sobre uma arte que parece não ter espaço atualmente: a poesia. Da minha parte, sou uma leitora assídua de poesias, porque acredito que elas plasmam um sentimento que atravessa os tempos e nos coloca no momento histórico (real e imaginário) no qual foi escrita. Há algo de transcendente na poesia e nos poetas, que nos proporciona uma verdadeira viagem no tempo. 

Para celebrar esse 29 de outubro, indico uma poeta que nos proporciona essa viagem da qual me refiro. Florbela Espanca, cuja uma das marcas é uma produção literária libertária, era puro arrebatamento; possuía uma linguagem telúrica, repleta de elementos com os quais construiu uma obra com forte teor confessional: densa, amarga e triste. A expressão poética – via contos, poemas, cartas e sonetos – é marcada por sentimentos como amor, saudade, sofrimento, solidão e morte, mas sempre em busca da felicidade. São textos que convidam o leitor, sobretudo as mulheres, a refletir sobre o amor, a devoção e o erotismo de uma forma deslocada do tempo. Aliás, a produção literária dessa portuguesa socialmente inovadora, nascida no século XIX, dialoga perfeitamente com as defesas feministas contemporâneas.

Florbela sempre teve uma necessidade de colocar para fora os próprios sentimentos, o que torna a sua obra tão pessoal e biográfica. Nunca precisou levantar bandeiras, porque ela em si já era a personificação da emancipação feminina em sua época. É impossível passar ilesa à sua obra, que cozinha amor, erotismo e devoção – devoção esta, muitas vezes, submetidas ao amor de um homem, sim, mas sempre consciente de ser uma escolha, não uma imposição.

Embora ofuscada muitas vezes pela figura de poetas como Fernando Pessoa, Florbela foi um dos grandes nomes da poesia portuguesa. Nascida em 8 de dezembro de 1894, na região do Alentejo, foi fruto de uma relação extraconjugal entre João Espanca e Antónia da Conceição Lobo, que a registrou como “filha de um pai incógnito”. Com a morte prematura da mãe, passou a ser criada pelo pai e a esposa dele, Mariana do Carmo Toscano. O reconhecimento como filha legítima só veio após a morte da madrasta. Com 18 anos, Florbela iniciou o ensino secundário, sendo uma das primeiras mulheres a estudar, o que configurava um escândalo para a sociedade da época. Após se casar, a poeta decide voltar a estudar e ingressa na Faculdade de Direito de Lisboa – era uma das 14 mulheres entre 347 estudantes homens.

Não foram apenas os estudos que tornaram Florbela uma mulher à frente do seu tempo. Em 1921, ela se apaixonou por António Guimarães e decide, então, pedir o divórcio a Alberto, primeiro marido (ela se divorciaria, depois, de António também). Embora o ato tenha sido completamente condenado pela sociedade, Florbela não se importou; não queria seguir os mesmos passos da mãe, pois estava mais interessada em buscar a própria felicidade. E, prosseguindo essa jornada, foi construindo uma obra da mais alta qualidade literária…

Poesia é resistência em tempos tão duros!

Lu Magalhães é presidente da Primavera Editorial, sócia do PublishNews e do #coisadelivreiro. Graduada em Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), possui mestrado em Administração (MBA) pela Universidade de São Paulo (USP) e especialização em Desenvolvimento Organizacional pela Wharton School (Universidade da Pennsylvania, Estados Unidos). A executiva atua no mercado editorial nacional e internacional há mais de 20 anos.

SOBRE A EDITORA | A Primavera Editorial é uma editora que busca apresentar obras inteligentes, instigantes e acalentadoras para a mulher que busca emancipação social e poder sobre suas escolhas. www.primaveraeditorial.com

Enviado por Betânia Lins / Frida Luna Boutique de Comunicação

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