Dia da Mulher: adolescentes se inspiram em ícones femininas para buscar igualdade
Pesquisa do IBGE aponta que diretoras e gerentes têm salário quase 40% menor que o de homens nas mesmas funções
Ícones femininas que contribuíram para reinventar o papel da mulher na sociedade fazem parte do repertório de adolescentes que buscam marcar e fortalecer seu lugar no mundo moderno. Essas jovens querem celebrar o Dia da Mulher, em 8 de março, construindo a história e contribuindo para reverter estatísticas de desigualdade. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no início da terceira década do século 21, mulheres que ocupam cargos de diretoras e gerentes têm salário quase 40% menor que o de homens nas mesmas funções. No caso de profissionais das ciências e intelectuais, o salário é um terço mais baixo que o dos homens.
O levantamento do IBGE mostra ainda que, no último ano da segunda década do século 21, em 2019, as mulheres dedicaram em média 21,4 horas semanais aos afazeres domésticos, quase o dobro do tempo dos homens, de 11 horas. Ainda segundo o estudo, embora sejam maioria nas instituições de ensino superior, as mulheres ainda são minoria em cargos gerenciais de tomada de decisões e na vida pública. A taxa de frequência escolar no ensino superior 2019, na faixa de 18 a 24 anos de idade, era de 29,7% de mulheres e 21,5% homens. Entretanto, no ano seguinte, os cargos gerenciais de tomada de decisões eram 62,6% ocupados por homens e apenas 37,4% por mulheres.
As estudantes do Colégio Progresso Bilíngue Sophia Vidotto Dionisio da Silva e Giovanna Aparecida Rodrigues Ferreira, de 14 anos, alunas do nono ano do Ensino Fundamental, e Manuela Fernandes Romano de Andrade, de 16 anos, do segundo ano do Ensino Médio, querem reescrever esses dados. “O Dia da Mulher é uma data muito importante para reconhecer todo o esforço que as mulheres tiveram ao longo da história para conquistar respeito e igualdade. Também é um dia para refletir sobre toda essa luta por direitos”, afirma Giovanna.
A reflexão contribui para que novas conquistas aconteçam, afirma Manuela. “Esse momento de reflexão nos faz avaliar tudo o que foi vivido e sofrido na trajetória das mulheres em todo mundo”, diz. Ao longo da história, mulheres enfrentaram grandes desafios para que as gerações seguintes pudessem ter mais igualdade, lembra Sophia. “As lutas e as conquistas foram principalmente por igualdade e respeito”, alega.
Na educação básica, as mulheres são fundamentais. Elas representam 79% da força de trabalho do Colégio Progresso Bilíngue Santos. Educadoras que contribuem para formar cidadãs e cidadãos melhor preparados para enfrentar o futuro próximo. “Neste momento de reflexão sobre a data comemorativa do Dia das Mulheres é preciso destacar, valorizar e incentivar cada uma dessas mulheres por suas escolhas de vida, por sonharem com uma transformação social pela educação”, afirma a diretora da escola, Karla Lacerda, que será homenageada na 4ª edição do Prêmio Mulher Caiçara 2023, da Associação Amigos da Vila Valença (AAVV) Mulher, no dia 31 de março.
Caminhos do conhecimento
Essas educadoras ajudaram as estudantes do colégio a formatar suas escolhas e desbravar seus próprios caminhos de conhecimento, no qual encontraram importantes representantes do universo feminino. Manuela tem no seu potencial artístico a sua singularidade e o teatro faz parte da sua formação. Ela participa do grupo de teatro oficial da escola Progresso Bilíngue Santos e foi a vencedora do destaque de melhor atriz na categoria estudantil interpretando a personagem Pagu. “Pretendo fazer faculdade de Artes Cênicas. Faço parte do Maracatu Quiloa desde que nasci e toco boa parte dos instrumentos. Também faço aulas semanais de piano e durante 12 anos fiz aulas de ballet, jazz e sapateado”, conta.
Em Pagu, Manuela descobriu uma multiartista, uma das primeiras mulheres a atuar nas artes gráficas no Brasil. “Ela nunca abaixou a cabeça para as situações absurdas que aconteciam no país em sua época”, defende a jovem, que também é fã da cantora Gal Costa e da atriz Leandra Leal. Patrícia Rehder Galvão, a Pagu, quebrou barreiras para conquistar mais igualdades para as mulheres. Foi escritora, poetisa, diretora, tradutora, desenhista, cartunista, jornalista e militante política brasileira, o que lhe rendeu mais de 20 prisões.
Igualdade e respeito também movem Sophia, que quer deixar registrada sua marca na história esportiva. A estudante representa o Colégio Progresso Bilíngue Santos em diversos campeonatos de natação e pretende chegar às olimpíadas, nadar por vários países e se tornar uma atleta profissional de ponta. “Quero fazer uma faculdade ligada ao esporte, eu penso bastante em me tornar técnica, pois eu vou saber lidar com essa área, e seria bem interessante continuar trabalhando na piscina mesmo não nadando”, conta Sophia, que também gosta de frequentar a academia e jogar vôlei..
A jovem encontrou em Ana Marcela da Cunha e Poliana Okimoto suas referências de conquistas femininas. A nadadora Ana Marcela é campeã olímpica, compete em provas de maratona aquática e foi campeã do prêmio de maior nadadora de águas abertas do mundo por seis vezes. Poliana Okimoto, maratonista aquática, se tornou a primeira nadadora brasileira a conquistar uma medalha olímpica na natação nos Jogos Olímpicos Rio 2016.
Colega de turma de Sophia, Giovanna é apaixonada por literatura e se sente motivada em desenvolver projetos literários em português e inglês. Ela pretende usar a habilidade para a prática de medicina, que exige muita pesquisa literária. “O ato de ler é mágico, a cada livro você entra em um novo mundo, uma nova realidade e é por isso que leitura é minha paixão”, afirma. Embora seu gênero literário preferido seja o romance, Giovanna acredita que ser uma leitora voraz vai ajudá-la no vestibular e nos futuros estudos de medicina. “A leitura ajuda a estimular o raciocínio e aprimora a capacidade interpretativa”, alega.
Giovanna encontrou em Tarsila do Amaral inspiração para perseguir seus objetivos. Tarsila foi pintora, desenhista e tradutora brasileira. Ela é uma das principais artistas modernistas latino-americanas, conhecida em diferentes países. Grande influência no movimento da arte moderna no Brasil, venceu tabus e se tornou referência do universo feminino brasileiro. As referências das três jovens estudantes ecoam vozes femininas de grande importância para a história da sociedade brasileira.
Empatia e diálogo
Segundo a diretora Karla Lacerda, o Colégio Progresso Bilíngue alinha a temática feminina às competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), exercitando a empatia, o diálogo e a busca pela informação em diferentes fontes de pesquisa. “A escola desenvolve com o multiletramento a resolução de conflitos, sempre valorizando a diversidade e promovendo o outro e os direitos humanos”, explica. Ela ressalta que olhares singulares para temas como a valorização da mulher atravessam diferentes áreas do conhecimento.
“A aproximação com a arte, a cultura, a literatura e o esporte possibilita as mais variadas interações e possibilidades de comunicação, que partem das habilidades individuais para ações de coletividade”, comenta Karla. Segundo ela, de maneira geral as alunas do Progresso Bilíngue ingressam em universidades escolhidas. No Ensino Médio, elas contam com a Investigação de Aptidão, em que as e os estudantes selecionam dois cursos e, durante a preparação para o vestibular, trabalham para que cada aluna ou aluno consiga conquistar os objetivos planejados.
Valorização e diversidade
O Progresso Bilíngue utiliza metodologias de trabalhos em grupos (TG) e trabalhos individuais (TI) sobre temas relacionados à valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais. Identidades e datas relacionadas às resistências sociais são apresentadas pelos próprios alunos. “As atividades e projetos do Dia da Mulher perpassam por todos os segmentos da escola, buscando sempre destacar e valorizar nossas alunas em suas singularidades e seus talentos”, explica a diretora.
De acordo com a educadora, a escola dialoga com os acontecimentos contemporâneos. “É importante que tudo seja tratado no campo da ciência, construindo o pensamento científico com pesquisa em diferentes fontes, análise de dados e com reflexões críticas e autorais de nossos alunos”, diz. A proposta acadêmico-pedagógica inclui, além das disciplinas normativas, temas como igualdade de gênero, desigualdade social, estrutura etária e de gênero, planejamento familiar e racismo, respeitando os interesses, a matriz de habilidade e o conteúdo da BNCC.
Karla aponta que é importante partir do sentimento de pertencimento do estudante para trazer identificação com temas e personalidades que escreveram e escrevem diferentes momentos históricos. “Mesmo as celebridades instantâneas representam o momento histórico no qual os jovens estão inseridos, então, o processo é construir essa análise crítica, que passa pela autopercepção de quem eles são em suas individualidades e como essas especificidades transformam o coletivo escolar”, diz.
Sobre Karla Lacerda – Educadora de formação diferenciada, diretora do Colégio Progresso Bilíngue Santos. Pertence a uma família de artistas de teatro e mora dentro de um teatro com marido, filha, genro e pai, relacionados aos mais diversos ramos das artes. Cursou faculdade de desenho industrial voltada ao teatro, faculdade de teatro e de pedagogia. Iniciou sua carreira de educadora aos 14 anos. Tem várias especializações em formação de professores. Atua como diretora pedagógica, professora universitária, proprietária de escola de teatro e atriz. Também é a palhaça Quintina, politizada e crítica.
Sobre o Colégio Progresso Bilíngue
Fundado na cidade de Campinas em 1900, por um grupo de cafeicultores que queriam garantir às filhas acesso à formação de excelência, o Colégio Progresso caracterizou-se como uma escola forte desde a sua criação e rapidamente se tornou referência. Para além da excelência acadêmica, o colégio garante a formação de valores humanos, que a diferenciam e colocam em perfeita sintonia com as exigências do mundo atual. Em 2017, atenta aos movimentos educacionais, a instituição implementou a formação Bilíngue. No ENEM 2018, o mais recente divulgado, a Progresso está entre as 40 melhores escolas do Brasil e a 12ª melhor do Estado de São Paulo.
Bartira Betin
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