CULTURA DE MASSA X ARTE
“Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!” Trecho da Música: Admirável Gado Novo de Zé Ramalho
FAZER OU NÃO FAZER PARTE DA MANADA, EIS A QUESTÃO!
A paráfrase do livro homônimo, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, feita pelo cantor e compositor Zé Ramalho, não poderia ser melhor para introduzir o meu artigo deste mês. Eu geralmente brinco dizendo que gosto é pessoal, cada um tem o seu, tanto que tem gente que admira os olhos; outros a remela. Começo de forma provocativa, pois realmente, preciso dizer, gritar, esbravejar… Arte não pode ser confundida com Cultura de Massa. Seria o mesmo que confundir refrigerante com suco de uma fruta recém apanhada no pomar; ou um “nugget” com frango caipira, ou… bom vamos voltar ao assunto, pois aqui não é programa Master Chef. Arte é algo que vem da alma, da nossa mais profunda consciência, nos torna mais críticos (será que por isto sou ranzinza), seletivos, reflexivos. E longe de ter alguma referência com o saldo bancário. Em contrapartida, Cultura de Massa quer transformar todo mundo em um único, ou melhor, num consumidor em potencial. Assim, a manipulação fica muito mais fácil.
TEMPOS DIFÍCEIS, NOVOS TEMPOS.
Vivemos em tempos onde grande parte das pessoas ou está correndo, ou está depressiva, ou conectada (portanto, desconectada do mundo real e de si mesma). E, aparentemente, ter a bolsa tal, o celular tal, o carro tal, vai nos tornar o tal. Mas, infelizmente, tão logo temos o tal objeto, voltamos a correr, sofrer ou se desligar do mundo. Arte nem sempre busca o bom e belo, algumas vezes é bem rude e feio, pois temos estes sentimentos dentro de nós e precisamos colocá-lo para fora. É preciso ter força, raça, gana.
SAI DE MIM OLHO GORDO
Dias destes ouvi uma pesquisa em que apontava o povo brasileiro como um dos mais invejosos do mundo. Que coisa feia! Um exemplo, generalizando, no Brasil, quando alguém nas mesmas condições faz sucesso e retorna ao seu lugar de origem para uma visita, os ex-vizinhos já vão logo pedindo algo, ou falando que foi sorte. Em alguns lugares, por exemplo, nos Estados Unidos, quando o mesmo acontece, normalmente o sentimento dos ex-vizinhos é de orgulho, inspiração e motivação para tentar fazer o mesmo.
Talvez a inveja e a obsessão por bens materiais, expliquem o mau gosto do brasileiro com relação à Arte. A cultura é a manifestação do povo, portanto, sei que devo aceitar, que o brasileiro de forma geral adora funk, sertanejo universitário, “sofrência”, e sei lá mais o quê.
A DIFÍCIL ARTE DE SER PROFESSORA
Até aí, como disse no início do texto, gosto é gosto. Mas, como professora, sinto que tenho a obrigação de apresentar aos alunos os clássicos da pintura, dança, escultura, artes visuais, entre outras coisas. Não adianta falar e reclamar porque funk é música. Pode ser, mas isto não precisa ser ensinado. Estas músicas “chicletes” grupam e desgrudam com a mesma velocidade.
Quero que meus alunos consigam se emocionar ao ver, por exemplo, um musical. Eu adoro musicais, sempre que possível, assisto, seja em São Paulo, Nova York, Buenos Aires, Alemanha. É sempre muito bom. Recentemente fui a São Paulo para ver o musical “Les Misérables” inspirado no clássico romance de Victor Hugo. A belíssima história se passa na França no início do século XIX. A emoção que senti me faz pensar que tudo vale à pena, pois numa apresentação como esta traz valores como amor, vingança, honra e poder, são tratados de forma sublime e que o tempo não apaga. Há jovens que passam dias numa fila para assistir a um show, por exemplo, do Justin Biber, mas jamais assistirão a um musical como este. O que se leva de aprendizado, de edificante, de relevante após um show como do menino rebelde é um forte exemplo do que a Cultura de Massa, também chamada de Indústria Cultural pode fazer. Tomemos as rédeas do nosso destino. “Non ducor, duco” expressão em latim, “Não sou conduzido, conduzo”.
Texto muito belo e verdadeiro. Parabéns professora artista, sou fã de sua arte!
Querida Margareth!
Seu comentário é um privilégio para mim! Você é profunda conhecedora da nossa língua materna, professora universitária e escritora. Agradeço imensamente! Beijo, Katia Velo