Brasil regride no ensino da matemática
Escolas buscam alternativas para tornar a disciplina mais atraente à nova geração
A matemática é, historicamente, o ponto fraco do Brasil nos exames nacionais e internacionais de educação. Nas provas do Pisa, o teste de qualidade educacional mais relevante da atualidade em todo o mundo, sempre pontuamos entre os seis últimos em matemática. Os resultados mostram um número alarmante: apenas 16% dos alunos que saem do 9º ano dominam o que é considerado basicamente suficiente na área. Segundo a escala do Pisa, a distância do Brasil para os países no topo da lista equivale a um atraso na aprendizagem superior a um ano.
Considerada tediosa no passado, a matemática é um problema que passa de pai para filho. Pais resistentes aos cálculos e números acabam, mesmo sem querer, transferindo para as crianças uma visão negativa da matéria, o que influencia no aprendizado da disciplina. De acordo com o professor licenciado em Matemática, Jacir Venturi, coordenador da Universidade Positivo, a escola também tem papel fundamental nesse processo. “Quase toda criança de 4 a 6 anos tem apreço e paixão por jogos lúdicos e criativos de raciocínio lógico, desde que apropriados à idade. Entretanto, no Brasil, a maioria dos professores do Fundamental 1 pouco estimula essas habilidades e até se escusam, dizendo que fez pedagogia porque nunca gostou de matemática”, lamenta.
Mas como fazer para evitar que os alunos encarem a matemática com tanta desconfiança? Especialistas explicam que interagir com a matéria de maneira amigável e prazerosa, como fazem com qualquer outra disciplina, facilita a compreensão. Segundo o coordenador da área de matemática da Editora Positivo, Carlos Wiens, o estudante precisa entender o problema para então elaborar suas ideias, desenvolvendo estratégias, levantando hipóteses e tomando decisões. “A discussão dos conteúdos colocada de maneira prática estimula o aluno a vivenciar o que está sendo estudado, permitindo uma compreensão mais ampla dos conceitos e sua aplicação”, afirma Wiens. Segundo ele, os conteúdos que os alunos precisam aprender devem fazer sentido. “É preciso atribuir a eles um significado prático, a fim de que os estudantes consigam responder ‘para que’ estão aprendendo a matéria em questão”, completa.
Pelo ponto de vista direto da sala de aula, a professora Marilda de Souza Fagundes, que ensina matemática no Colégio Positivo Júnior, em Curitiba (PR), acredita que, por meio de atividades que fujam do padrão convencional, é possível desmistificar a disciplina e conquistar a atenção e o envolvimento dos alunos. Em suas aulas, são comuns abordagens inusitadas como a aula “Mergulho na matemática”, realizada na piscina do colégio, em que são trabalhadas questões de medidas, como comprimento, área e espaço. Outra aula que faz sucesso com os alunos é a “Matemática e Pizza”: a professora reúne a turma – em horário de contraturno – numa pizzaria. Lá são abordadas todas as questões ligadas à atividade do estabelecimento como custos, consumo, frações e porcentagens, fazendo os estudantes exercitarem os cálculos. A professora costuma realizar também atividades mais simples, na própria sala de aula, como, por exemplo, a brincadeira da bomba, em que alunos vão passando de mão em mão um “artefato” cheio de papeizinhos com questões sobre a matemática que precisam ser respondidas por eles. Outra atividade simples e que faz muito sucesso entre as crianças é o uso do tangram, um quebra-cabeça chinês que ajuda a trabalhar noções geométricas.
Também alinhado a essa proposta, o colégio CCI, do Distrito Federal, realiza projetos voltados para a alfabetização matemática com o objetivo de relacionar os conteúdos com a vida do estudante. A disciplina começa a ser trabalhada já na Educação Infantil e alguns projetos geram grande envolvimento por parte dos alunos. Crianças de 5 anos fazem contas e começam a compreender a importância de poupar a partir da leitura do livro Economia de Maria. Estudantes do 1º ano do Ensino Fundamental aprendem a somar utilizando tampinhas. Num tabuleiro confeccionado com cartolina, os alunos realizam as somas, colocando em cada coluna a quantidade referente ao número indicado. No 4º ano do Ensino Fundamental, o destaque é para as figuras geométricas e a simetria. Em sala de aula, as crianças compreendem que tudo que pode ser dividido em partes, com ambas as partes coincidindo perfeitamente quando sobrepostas, é chamado de simetria. Dessa forma, eles entendem que a simetria não está ligada apenas à Arte, mas se relaciona também com outras disciplinas, como Ciências e Matemática. “Todo esse trabalho traz resultados bastante positivos. Os alunos passam a enxergar a matemática de outra forma e aplicá-la no seu dia a dia”, afirma Cássia Tinoco, diretora pedagógica do CCI. Segundo ela, parte do sucesso dos projetos se deve ao fato de que os professores da escola participam, constantemente, de treinamento on-line e presencial, com reforço na formação básica de Matemática.
A interação com os pais e a rotina diária do aluno também podem contribuir para o aprendizado. “Fora da sala de aula, os pais devem ajudar os filhos a utilizarem os conceitos matemáticos”, reforça Wiens. Aprender brincando pode ser o caminho para fazer a criança gostar de matemática. Brincadeiras que promovem a interação em grupo motivam, desafiam e desenvolvem o raciocínio lógico. Jogos como amarelinha e pega-pega envolvem conceitos de espaço, forma e tempo. Algumas histórias infantis trazem questões que chamam a atenção para noções de quantidade e medidas. Dobraduras e quebra-cabeças também ajudam a desenvolver o raciocínio geométrico. Com o tempo, as crianças já podem auxiliar os pais, fazendo contas durante as compras no supermercado, por exemplo. Wiens ressalta ainda que os adultos devem sentar com seus filhos para fazer a lição de matemática – lembrando que, hoje, o ensino da disciplina parte do ponto de vista do aluno.
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