Bate-papo com a artista visual GUITA SOIFER
Matéria publicada site antigo – 14/11/2008
http://www.guiasjp.com/opcoes.php?option=591&id_noticia=35564&id_canal=49
Guita Soifer transita em várias linguagens: desenho, gravura, pintura, escultura, fotografia e vídeo-arte.
A artista trabalha de forma contínua, árdua e intensa. O processo em sua obra é uma etapa vertiginosa. Fazer e refazer, num infindável ir e vir, deixando marcas expressas; estas, nítidas, únicas e singulares. Observa-se camadas e mais camadas de tintas, interferências, impressões. Embora seu trabalho seja contemporâneo, a artista utiliza-se, algumas vezes, de processos menos tecnológicos e mais “manuais”, o que imprimi em sua obra, uma característica ainda mais pessoal. Guita declara: “Não se recebe mais convites, tudo é virtual, prefiro usar o telefone.”
Guita embora seja uma artista experiente, pelo tempo em que atua (mais de 20 anos), pelas inúmeras exposições individuais no Brasil e no exterior: Argentina, Paraguai, Chile, Alemanha e Estados Unidos. Pelas participações em coletivas e salões: edições do Salão Paranaense (1981/83/86), Bienal Internacional de Gravura e Arte Gráfica de Cabo Frio (RJ – 1983), 37º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco (1984), The 13th and 14th Internacional Independent Exhibition of Prints in Kanagawa (Japão – 1987/88), edições da Mostra da Gravura Cidade de Curitiba (1986 / 88 / 92 / 95 / 99), Gravadores do Paraná (Miami, Washington e Cleveland – EUA – 1983), 8ª Bienal do Chile (1987), Hémisphéres – Anée du Brésil en France (França – 2005), mostras e bienais realizadas na Holanda, na Polônia e em Porto Rico. Autora de vários livros de arte lançados pela Fundação Cultural de Curitiba, Cada da Imagem, Centro Cultural Solar do Barão, etc. Guita também se destaca pelo significativo conhecimento adquirido nos cursos com artistas de notório reconhecimento, como Calderari, Uiara Batista, etc.. Respeitados críticos de arte descrevem suas obras como Agnaldo Farias, Maria Cecília Noronha, Nilza Procopiak, entre outros.
Apesar de todos os itens elencados acima, Guita ainda possui o viço, o frescor e, principalmente, o olhar apaixonado de um artista iniciante. Senti isto, nitidamente, enquanto ela folheava seu livro de assinaturas onde constavam vários recados (lindos!) de crianças, sobre o seu trabalho.
Cada etapa desenvolvida é cuidadosamente organizada. Embora não seja algo pensado de antemão, suas obras seguem o fluxo do seu pensamento.
Seu ateliê, um charmoso e antigo sobrado, num bairro elegante de Curitiba, provavelmente da metade do século passado, parece uma extensão de suas obras. Durante a visita, eu que estava com perguntas em punho e gravador na bolsa, mudei totalmente o discurso da minha entrevista, resultando neste instigante bate-papo. Calmamente, mostrou-me seu ateliê e contou um pouco sobre sua obra e sua trajetória. Guita contou-me que iniciou como a maioria dos artistas, pela figuração, utilizando tintas à óleo.
Suas obras, embora complexas, despertam o olhar do espectador, pois é uma obra envolvente. É um convite para a contemplação. Sempre com um forte apego afetivo e um vínculo de resgate da memória, como descreve diante de uma instalação fotográfica: “Coloquei minha mãe e eu, juntas, num tempo que não nos conhecíamos, pois eu ainda não existia”. Mas essa memória, não apenas como lembrança do passado, mas sim como combustível, um caminho para a ação.
Cheguei ao ateliê de Guita com uma missão: fazer uma entrevista. Permaneci com uma função: aprender e apreender o máximo possível. E saí com uma sensação de quando se conhece uma pessoa que não se esquece. Para exemplificar e, finalizar, descrevo, abaixo uma frase extraída do livro Lendo Imagens de Alberto Manguel.
“Não tenho certeza de nada, a não ser da santidade dos afetos do coração e da verdade da imaginação – o que a imaginação capta como beleza deve ser verdade – tenha ou não existido antes.” John Keates, carta a Benjamin Bailey, 22 de novembro de 1817.
Queria entrar em contato com Guita Soifer .Ruth Tarasantchi do Museu Judaico de São Paulo