Assessoria de imprensa: resistência à efemeridade das mídias sociais
Fundadora da Press Página diz que um texto de poucas linhas, uma imagem ou um vídeo curto podem gerar engajamento, mas não são suficientes para explicar questões complexas de interesse público e não constroem reputações
O Brasil, de acordo com o Censo da Abracom (Associação Brasileira das Agências de Comunicação), tem mais de 1.200 agências de comunicação, sendo que os três produtos mais procurados pelos clientes ainda são: assessoria de imprensa (84,5%), ações nas redes sociais (59,7%) e geração de conteúdo (36%). Em entrevista à revista Poder, o ex-presidente da Abracom, Daniel Bruin, disse que as agências de comunicação produzem hoje mais conteúdo do que praticamente todos os veículos de mídia no Brasil. “Temos 18 mil profissionais gerando uma quantidade muito grande de conteúdo”. Sendo assim, cabe também aos assessores de imprensa a responsabilidade de desenvolver matérias com informações relevantes e críveis.
Em uma pesquisa publicada no Reuters Institute Digital News Report, 60% das pessoas entrevistadas (entre 16 e 64 anos) afirmaram que se preocupam com a disseminação de informações falsas ou enganosas nas redes sociais – onde posts curtos e manchetes rasas não têm como objetivo dar profundidade aos acontecimentos. O público está cada vez mais vulnerável a informações distorcidas ou falsas nesses meios de comunicação. O trabalho de assessoria de imprensa desempenha um papel crucial no combate a esse fenômeno. Ao fornecer informações precisas, apuradas e verificáveis, os assessores de imprensa colaboram para que os repórteres possam produzir matérias que esclareçam o público e desmintam rumores.
O relatório “Digital 2024”, divulgado pela We are social, revela que mais de cinco bilhões de pessoas usam ativamente as mídias sociais, sendo que, no Brasil, se gasta uma hora a mais do que a média global nesse tipo de atividade – que é de duas horas e meia. Isso significa que as mídias sociais são responsáveis por 35,8% das atividades diárias online do brasileiro e que o restante se divide em busca de informações, serviços de localização, compras, transações financeiras, bate-papo, pesquisas, consultas médicas, estudo, trabalho etc. Detalhe: mais da metade das pessoas conectadas à internet recorrem a ela para se atualizar e consumir notícias.
Para a jornalista Heloísa Paiva, que há 23 anos dirige a agência boutique Press Página, “em um tempo em que os conteúdos são consumidos rapidamente e as fake news se proliferam, o trabalho de jornalistas de redação e assessores de imprensa ganha importância ao fornecer informações verificadas, construídas com rigor e cuidado, resgatando a confiança do público e valorizando a verdade”. Mas isso, em sua opinião, não significa que os profissionais envolvidos na geração de conteúdo para mídias sociais devam adotar outra postura. “Postagens em mídias sociais, como o Instagram, têm poucos segundos para cumprir a missão de atrair e convencer seu público-alvo. Embora a importância dessas redes seja inegável, elas não substituem a análise minuciosa e o embasamento que só uma matéria jornalística bem apurada é capaz de oferecer”.
Nesse cenário, Heloísa acredita que a assessoria de imprensa se apresenta como um pilar essencial para a comunicação estratégica. “Diferentemente da simples promoção de posts ou da viralização momentânea de um conteúdo, a assessoria visa construir uma narrativa consistente e verdadeira sobre seus clientes e temas de interesse. Ela se diferencia por buscar não apenas visibilidade, mas também relevância”.
A jornalista afirma que a função da assessoria de imprensa vai muito além da produção de press releases ou do contato com outros jornalistas. Ela se baseia em entender o contexto em que seus clientes estão inseridos, fazer pesquisas para extrair dados que comprovem essa realidade, e fazer uma ponte com veículos de comunicação que cubram esses segmentos, identificando oportunidades. “O objetivo principal é desenvolver matérias que tragam informações úteis e interessantes, construindo uma boa reputação para os clientes. Um texto de poucas linhas, uma imagem ou um vídeo curto podem gerar engajamento, mas provavelmente não são suficientes para explicar questões complexas”.
Dados divulgados pela consultoria Statista revelam que, no final de 2023, 62% dos adultos que responderam a uma pesquisa global declararam que confiavam na mídia tradicional, enquanto 68% disseram que confiavam em mecanismos de busca. A fonte considerada menos confiável foi a mídia social – principalmente na Europa e na América do Norte, onde a maioria das notícias vistas na mídia social são consideradas tendenciosas. A comunicação online vem em diferentes tipos: de mídia social a aplicativos de mensagens, de Facebook a WhatsApp – que é, de longe, o aplicativo de mensagens mais usado.
“Não se trata de desmerecer as redes sociais, que têm um papel fundamental na comunicação moderna e no acesso rápido à informação. Elas são importantes para criar conexões, gerar visibilidade e promover a interação direta com o público. Mas a assessoria de imprensa é responsável por trazer a profundidade que muitas vezes falta nessas plataformas”, diz a diretora da Press Página. “Um post pode ser o início de uma conversa, mas uma boa matéria é o que garante que essa conversa seja rica em conteúdo e embasada em fatos. A prática da apuração, da verificação e da construção de uma narrativa clara e consistente é o que diferencia uma matéria jornalística de um post viral”.
Como destaca Paul Holmes, fundador do The Holmes Report – que agora se chama PRovoke Media – uma das mais respeitadas publicações sobre Relações Públicas no mundo, “a confiança é a base de qualquer relação significativa, e o papel da comunicação é construir essa confiança de forma consistente e transparente”. Portanto, é fundamental reconhecer a importância do trabalho de relações públicas e assessoria de imprensa em tempos de conteúdo instantâneo. Ele não só complementa o papel das redes sociais, mas também assegura que a comunicação seja feita com qualidade, transparência e compromisso com a verdade.
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