Artista brasileiro que trata em suas obras das experiências racial e queer participa de exposição na Alemanha

Franco-brasileiro Wilame Lima apresenta as obras fotográficas “O tiro” e “Desencarnado”, na exposição artística “Sessão 3 – Carte Blanche”, vai até 17 de maio, na Galeria Azur, localizada em Berlim

Dono de uma obra necessária para os dias atuais, cujo grande objetivo é oferecer uma visão autêntica e multifacetada das experiências racial e queer, o artista visual Wilame Lima participa até dia 17 de maio de 2024 da exposição artística (física e online) “Sessão 3 – Carte Blanche”, na Galeria Azur, localizada em Berlim, na Alemanha. A exposição, segundo a curadoria do evento, reúne obras figurativas e abstratas de nomes emergentes da arte contemporânea, apresentando “um caleidoscópio de estilos, temas e meios”, desde “explorações ousadas de cor e textura a pungentes reflexões sobre questões sociais”.

Na ocasião, Wilame apresenta duas das suas mais importantes obras fotográficas: “O tiro” e “Desencarnado”. Ambas fazem parte do Projeto Drag Queen, de 2023, uma homenagem a um amigo, assassinado, em 2019, por causa de sua orientação sexual.

Na obra “O Tiro”, em que o artista é retratato sendo atirado em uma piscina, Wilame pretende simbolizar todos os tipos de violência a que o amigo foi submetido: sua morte, mas também a violência simbólica cometida pela polícia, que tratou um crime, claramente homofóbico, como latrocínio, e a violência cometida por leitores, que, em sites de notícias, buscaram justificar a morte em decorrência de uma possível conduta da vítima, como se ela fosse culpada e não quem a matou. “Cometer esses atos de violência é atirar uma pessoa à morte”, diz.

Wilame Lima O tiro

O tiro

Já a obra “Desencarnado”, que retrata o artista flutuando na piscina, simboliza, de acordo com Wilame, o que restou desse ato tão brutal. “Pelo que sei, até hoje, o caso não foi esclarecido. Essa falta de desfecho, de não saber o que realmente houve com meu amigo, é a pior das sensações”, afirma. Por isso, segundo o artista, a escolha por uma imagem de um corpo flutuando. Capturado na fotografia, esse corpo pairará sobre a água para sempre.

Desencarnado

O encontro

Ao aceitar participar de uma exposição na Galeria Azur, Wilame encontra o lugar ideal para manifestar-se enquanto artista. Isso porque, em seu site, a galeria de arte moderna e contemporânea afirma ter como principal objetivo desafiar o modelo convencional de galeria de arte, tornando-a um ambiente mais democrático e menos elitista, em que só alguns poucos privilegiados, por nome e rede de contatos, obtêm destaque. Além disso, afirma que quer promover “uma comunidade inclusiva e de mente aberta que celebra as muitas facetas da expressão artística”, garantindo que seus artistas tenham a oportunidade “de prosperar em seus próprios termos”.

Wilame, por sua vez, busca seu lugar ao sol, sem ter uma origem ou afiliações que lhe abonem, apoiado unicamente em seu próprio talento. Sua história de vida começa em Aracaju, Sergipe, cidade que o artista define como “distante dos grandes centros financeiros” e “onde a especulação da pobreza criou locais interditos para parte da população, inclusive para ele”. Na Universidade Federal de Sergipe, onde cursou jornalismo, tem sua primeira experiência com a fotografia profissional, que é apreendida, nesse primeiro momento, como técnica, documental e neutra.

Gay, Wilame sofre, desde muito cedo, os efeitos da homofobia em sua cidade de origem. A procura de um lugar onde possa se expressar em sua plenitude e que a diversidade seja respeitada, o artista muda-se para o sul do Brasil e posteriormente para o exterior, vivendo na Suíça, Áustria, França e Estados Unidos, onde reside, atualmente, próximo a Miami. “Na passagem por estes países finalmente abandonei o ideal da fotografia neutra e assumi um estilo onírico, sentimental e, por vezes, surreal”, afirma.

Ao naturalizar-se francês, relata o artista, compreende que é também um corpo racializado e suas obras assumem um tom mais político, com foco em temas como colonialismo e homofobia, sem deixar de trabalhar com uma linguagem poética e sensível que permite a abstração. “Cabe lembrar que o próprio ato de abstrair também é uma declaração política, especialmente em face das expectativas impostas aos grupos marginalizados para que contem e recontem suas lutas, numa constante fetichização do sofrimento”, ressalta.

O artista visual pretende, através de suas obras fotográficas, expressar suas dores e dificuldades enquanto corpo racializado e queer, sem que elas caiam na vala comum da romantização e da fetichização. Wilame deseja ir além dessas narrativas, desmistificar estereótipos e expectativas, destacando suas conquistas, aspirações e complexidades. “Ao representar minhas experiências sem reduzi-las a estereótipos ou caricaturas, reivindico a minha própria voz e essência”, finaliza.

Serviço

“Sessão 3 – Carte Blanche”

Data: até 17 de maio

Horário: a partir das 19h

Local: Galeria Azur – Karl-Marx-Allee – Berlim – Alemanha

**A exposição online terá a duração de 12 meses. Acesso pelo endereço: galeriaazur.art/de/

Por Patrícia Jimenes – Jimenes Comunicação

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