Arte e tecnologia: a revolução silenciosa na indústria criativa
Por Wagner César*, escritor, mercadólogo e ativista social
A arte, em todas as propostas, estilos e subgêneros, é a forma mais humana possível de expressar ideias, histórias e sentimentos. Mas agora, com as inovações tecnológicas, especialmente NFTs, plataformas digitais e inteligência artificial (IA), ela passou a viver uma transformação que está redesenhando silenciosamente o papel do artista e o acesso às obras.
Dito isso, uma discussão se faz frequente na comunidade artística: essa mudança democratiza a arte, estimulando a criação de novas formas independentes de renda, ou ameaça a indústria e a economia criativa? Para saber a resposta, é preciso estudar a intenção de cada tecnologia e a respectiva aplicação nessa área.
NFTs: a exclusividade no mundo digital
Em primeiro lugar, os NFTs (do inglês, tokens não fungíveis) são uma das inovações mais recentes e impactantes na indústria criativa. NFTs são ativos digitais que usam a tecnologia blockchain para garantir a propriedade e autenticidade de uma obra na internet. É como imaginar alguém que criou uma arte virtual e deseja vendê-la como uma peça única. Com os NFTs, pode-se vender um certificado digital de propriedade, que comprova a autoria e exclusividade da obra. Isso é possível porque os NFTs não são intercambiáveis como as criptomoedas comuns; eles são, por definição, “não fungíveis” e únicos; e quem os adquire detém a propriedade oficial da produção, agregando valor e raridade à peça.
Esse novo mercado revela uma oportunidade inédita para artistas digitais que buscavam monetizar obras, mas enfrentavam a dificuldade de ganhar dinheiro com criações que poderiam ser facilmente replicadas na internet. Esse cenário está modelando a economia criativa de uma forma quase inimaginável há alguns anos. Para se ter uma ideia, estima-se que o setor de NFTs possa crescer entre 18% e 35% ao ano, até chegar a US$ 120 bilhões em 2028, segundo a pesquisa “NFT Landscape 2023”, da Dux.
Mídias digitais: o novo tapete vermelho dos artistas
Além dos NFTs, as plataformas digitais e as redes sociais têm sido uma mudança de chave para conquistar o público global, permitindo que profissionais compartilhem as criações sem a intermediação das tradicionais galerias ou editoras, alcançando uma proporção de pessoas que antes era impossível.
Um jovem artista que começa a carreira hoje pode, por exemplo, exibir o trabalho em plataformas como Instagram, Twitter ou TikTok, alcançando um público diverso e até comunidades de fãs com total liberdade e autonomia. Além de aumentar as chances de fama e visibilidade, essa atuação também abre portas para colaborações, encomendas de obras e venda direta de peças – pontos essenciais para uma carreira sólida e sustentável. As redes sociais possibilitaram o conceito de “viralização”, algo como se tornar popular no mercado, mas de uma maneira muito mais ágil e facilitada.
Inteligência artificial: aliada ou ameaça?
Outro avanço significativo é a inteligência artificial aplicada à arte, que vem providenciando uma nova gama de criação de conteúdo e técnicas inovadoras para ampliar as possibilidades criativas e produzir uma infinidade de modelos, cores e estilos personalizados.
Em certos casos, a IA ainda é usada para restaurar peças antigas e analisar tendências para os consumidores de arte. Por outro lado, ela também pode causar muita apreensão para os artistas, que temem perder a propriedade intelectual. Por isso, apesar do grande potencial, é importante enxergar essa automação como uma ferramenta de trabalho, que vai apenas acelerar a produção a partir da subjetividade, olhar sensível e experiências de vida. O toque humano da arte não pode ser removido do artista. É preciso entender esse ponto e utilizar a inteligência artificial como uma aliada para fortalecê-lo.
Criatividade e tecnologia: um futuro oportuno, mas desafiador
Embora haja inúmeras possibilidades provenientes da tecnologia, ela também pode acarretar tendências desafiadoras, mesmo de maneira indireta. Com tantas alternativas de exposição, por exemplo, muitos artistas passam a enfrentar um ritmo de competição intensa nas plataformas digitais. Em um lugar onde a liberdade de expressão e a acessibilidade são absolutas, destacar-se requer muito além da habilidade artística. Não é à toa que muitos profissionais, além das obras, têm explorado o conceito de marketing digital e engajamento com o público para usufruir ao máximo desse espaço. Para os artistas, o recurso tem trazido, acima de tudo, necessidade de adaptação.
No contexto tecnológico, a indústria criativa finalmente conseguiu evoluir para tornar-se mais acessível e diversa, proporcionando novas chances de vivenciar, consumir e se conectar com a arte de forma autêntica. Graças a essa revolução silenciosa, a economia criativa não só gera empregos e renda, mas transporta a expressão artística a pessoas e comunidades antes fora desse circuito. Mesmo desafiador, o futuro tende a ser oportuno para todos os envolvidos nele.
* Wagner César, também conhecido como Wag, é escritor, mercadólogo e ativista que une a paixão pela literatura ao propósito de transformar vidas por meio do marketing social. Com formação e MBA em Marketing e Vendas, o autor é pós-graduado em Escrita Criativa, Roteiro e Multiplataformas, com uma trajetória de 12 anos dedicados à escrita e, paralelamente, de seis anos voltados à promoção de causas humanitárias.
Pedro Assis – Assessor Menthion
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