A TORTURANTE BUSCA DA BELEZA PERFEITA

Especial para a Folha da Mulher

Espelho, Espelho Meu!

Vivemos em um país que, literalmente, não está em guerra, mas, ainda assim, nós, mulheres, somos constantemente bombardeadas por imagens de transformações estéticas surreais. Algumas são tão absurdas que logo percebemos que querem nos enganar.

São tantas imagens, tantas que, se não pararmos para refletir, somos levadas como um tsunami. O Brasil é o segundo país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo – perdendo apenas para os Estados Unidos. No meio desse mar de perfeição, aparecem os maremotos como procedimentos estéticos catastróficos e alguns até fatais.  Mas afinal, sem intervenções cirúrgicas ou maquiagem, ainda é possível existir beleza natural?

Pobres princesas ricas

Ao longo da história, muitas mulheres foram admiradas por sua beleza, riqueza e casamentos aparentemente perfeitos. No entanto, a realidade nem sempre foi tão encantada. Desde Cleópatra, que usava banhos de leite para manter a pele jovem, até princesas modernas como Lady Di, o contraste entre a ilusão do conto de fadas e a dura verdade sempre existiu.

Nos filmes da Disney, as princesas vivem em castelos encantados e encontram o amor verdadeiro. Mas, na vida real, muitas dessas mulheres enfrentaram traições, doenças, transtornos mentais e até destinos trágicos. Um exemplo marcante é Elisabeth da Áustria, a icônica Sissi.

Sissi, a beleza que encantou multidões

Sissi era dona de uma beleza deslumbrante: cabelos escuros que chegavam aos tornozelos, um pescoço alongado e olhos azuis expressivos. Criada em meio à natureza, desenvolveu um espírito livre e indomável. Seu casamento com o imperador Francisco José da Áustria foi um raro caso de união por amor, pelo menos no início, já que ele deveria se casar com sua irmã, Helena.

No entanto, a vida no rígido protocolo da corte vienense foi sufocante para Sissi. A perda de sua primogênita, Sofia, durante uma viagem oficial, foi um golpe profundo. Como os filhos deveriam ser cuidados pelos empregados da corte, a acusaram veladamente de negligência. Para lidar com o sofrimento, acredita-se que ela desenvolveu bulimia e se tornou obcecada por exercícios físicos.

Em 1898, foi assassinada por um anarquista italiano, que a esfaqueou no coração. Dizem que estava tão fragilizada devido às dietas extenuantes que nem sequer percebeu a gravidade do ferimento. Hoje, sua memória é eternizada por estátuas espalhadas pela Europa, especialmente na Áustria e na Hungria, onde é venerada até hoje.

Os Rituais de Beleza de Sissi

A imperatriz seguia rituais de beleza exaustivos que beiravam a obsessão, refletindo os rígidos padrões da época. Alguns deles incluem:

  • Cabelos: Seus longuíssimos fios exigiam horas diárias de cuidados. A cada lavagem, era necessário um dia inteiro para o processo.
  • Corpo e Pele: Para manter a pele viçosa, aplicava máscaras faciais feitas com carne fresca e dormia envolvida em lençóis umedecidos com vinagre.
  • Exercícios Físicos: Praticava equitação, caminhada, ginástica e natação, chegando a passar horas se exercitando, mesmo no inverno rigoroso.
  • Espartilhos: Obcecada por manter a cintura fina, seu peso não poderia ultrapassar 50 kg, mesmo tendo 1,72 m de altura, usava três modelos diferentes de espartilhos para garantir uma cintura de apenas 50 cm de circunferência!

Um Novo Olhar para o Espelho e para Nós

Em um mundo onde padrões de beleza são impostos e quase divinizados, é fundamental lembrar que a verdadeira beleza vai muito além da aparência. Ela está na nossa essência, na nossa força e na nossa autenticidade. Afinal, a beleza mais importante é aquela que reflete quem realmente somos.

E, felizmente, sinto que há uma leve brisa nesse deserto sufocante. Na entrega do Globo de Ouro 2025, algumas atrizes se destacaram pelo visual mais natural, como Pamela Anderson, 57, que apareceu sem maquiagem, e Fernanda Torres, 59, com um aspecto discreto e elegante. Aliás, Fernanda Torres mesmo antes do Oscar, já entrou para a história do cinema nacional! Viva!

Nota: A Coluna KV deste mês foi inspirada no filme “A Imperatriz”, da Netflix. Fica a dica!

Sobre:

KATIA VELO
Katia Velo é artista visual, colunista cultural e curadora com mais de 20 anos de experiência. Especialista em História da Arte pela EMBAP, Bacharel e Licenciada em Letras pela Faculdade Anhembi/Morumbi e com cursos de especialização na USP. A artista alia conhecimento acadêmico à prática no cenário de arte. Possui em seu currículo mais de 15 exposições individuais e 150 coletivas nacionais e internacionais, participou de projetos importantes, como a Bienal de Curitiba, a exposição ODS & Arte/ONU, entre outras. Além disso, é idealizadora da ação de doação de flores pelo Instagram @campanhadoeumaflor, sócia fundadora da associação Dando Voz ao Coração e diretora de comunicação voluntária da APAP/PR desde 2007, promovendo ações sociais e culturais. À frente de Katia Velo – Arte, Cultura e Comunicação, é reconhecida por sua atuação cultural e humanitária. Sua trajetória inclui premiações em Salões de Arte e a curadoria de exposições que promovem a interseção entre arte, cultura e temas sociais. Sua dedicação à arte e à comunicação cultural é reconhecida por prêmios e homenagens.

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