Exposição “Eu Quero Ser o Mar” Ana Serafin
O mar, fonte de mitos e lendas, também inspira uma conexão íntima e profunda com a vida, como expressa o poema “Cantiga” de Manoel Bandeira. A artista Ana Serafin vive essa relação em Balneário Camboriú, onde o mar, sempre presente, inspira sua exposição “Eu Quero Ser o Mar”. Em suas obras, Serafin explora essa metáfora filosófica e emocional por meio de grandes pinturas e pequenos desenhos. Suas criações, com gestos amplos e cores meticulosas, nos levam a reflexões profundas, enquanto o azul predominante evoca calma e criatividade, celebrando o mar como símbolo de imensidão e transformação.
Curador: Nei Vargas
Serviço:
Abertura: 12 de setembro de 2024
Horário: 17h30 às 21h
A exposição estará em cartaz de 12 de setembro a 27 de outubro de 2024.
Local: Sala de Exposição Célia Neves Lazzarotto, MuMA – Museu Municipal de Arte
Endereço: Av. República Argentina, 3430, Bairro Portão, Curitiba – Paraná.
Apoio: Galeria Zilda Fraletti
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Texto curatorial
Eu quero ser o mar
Cantiga
Nas ondas da praia
Nas ondas do mar
Quero ser feliz
Quero me afogar.
Nas ondas da praia
Quem vem me beijar?
Quero a estrela-d’alva
Rainha do mar.
Quero ser feliz
Nas ondas do mar
Quero esquecer tudo
Quero descansar.
Manoel Bandeira, 1936
Vem de tempos longevos os diversos significados que a humanidade atribuiu a um dos mais determinantes elementos da natureza. Já foi cenário para lendas e mitologias de diferentes sociedades, habitat de monstros imaginários, percurso para descobertas de novas regiões, guerras sanguinárias, viagens marcantes, disputas esportivas, entre tantas coisas. No entanto, é na relação mais íntima de convívio que estabelecemos noções geradoras de sentido e elevação da nossa existência. Vem daí o poema de Manoel Bandeira enfatizando o querer de uma relação prazerosa, amorosa e eterna com o mar no poema Cantiga.
A relação de intimidade quase simbiótica e de desejos infinitos com o mar, como conclama Bandeira, foi conquistada por Ana Serafin no seu cotidiano em Balneário Camboriú, no litoral catarinense, de onde ele aparece para a artista emoldurado pela janela de seu apartamento e disponível para suas caminhadas na beira-mar. Artista com trajetória consagrada na pintura, revela seu desejo de integrar-se no infinito das águas dos oceanos na exposição “Eu quero ser o mar”. Uma poderosa metáfora de envergadura filosófica e emocional que ela nos convida a experienciar por meio do conjunto de pinturas recentes de grande formato e desenhos pequenos de sua fase inicial de carreira.
Para levar a cabo seu intento, a artista vai na essência da pintura para elaborar um amplo arcabouço gestual desprendido e ao mesmo tempo meticuloso, gerador de campos de cor aparentemente desconectados pela complexidade da abstração. Contradições? Dualidades? Sentidos difusos? A artista faz de suas pinturas imensos portais que nos evocam silêncio e ensimesmamento reflexivo, contrapondo a ligeireza e voracidade da vida contemporânea. As telas são como as janelas de sua casa por donde ela vê o mar diariamente. Não à toa, suas obras nos tomam pelas mãos para que possamos caminhar na beira da praia em um final de tarde iluminado pelo por do sol. Assim, a contemplação gerada pelas suas narrativas visuais pode ser apontada como um dos elementos chaves das suas composições.
As linhas em seu trabalho são determinantes para alcançar efeitos estéticos e conceituais, pois elas assumem a função de promover zonas limítrofes dos campos de cor. Elas criam microcosmos dentro do espaço pictórico para que esquemas cromáticos sejam elaborados em refinadas contraposições de sombra e luz, preenchimentos e vazios em misturas de cores improváveis e dicotômicas em que o azul predomina.
Em uma gama de sentidos atribuídos, a cor azul tem poder calmante, instiga a criatividade e o exercício intelectual, apontando assim um dos motivos pelo qual artista passou a desejar ser o mar em sua imensidão de tons. Da sua janela, Ana Serafin vê o mar como possibilidade de se afogar, virar uma rainha e nele ter um descanso interminável, festejando os versos de Bandeira.
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