Nostalgia: exposição convida público a relembrar memórias de infância

Giz de lousa, palito de fósforo e carteira escolar se tornam obras de arte em “A Verdade sobre a Nostalgia”, mostra que explora o imaginário do visitante e viaja entre passado e presente

Fotografia Julio Ricco

Imersa nas profundezas da memória e da emoção, “A Verdade sobre a Nostalgia” convida o público a explorar o permanente laço entre o presente e o passado. Reconhecido por sua habilidade em capturar a essência da experiência humana – e tranformá-la em arte, o artista visual Renato Gosling apresenta, nesta nova exposição, uma série de trabalhos que evocam sentimentos de nostalgia, mas que também questionam a natureza da memória.

Segundo Jhon Voese, curador da mostra, Gosling procura problematizar a saudade, colocando em cheque lembranças de um passado que normalmente projetamos e romantizamos. As obras partem de uma conexão afetiva, mas rapidamente chacoalham os espectadores ao apontar pontos de crítica, de incômodos, e de questionamentos.

“As obras em giz, por exemplo, evocam discussões formais, plásticas, um experimentalismo intuitivo do artista e do visitante, mas também nos levam para dentro de salas de aula que ainda se utilizam deste material, o que reflete certa precariedade em meio à era de novas tecnologias de comunicação. Seja como tecnologia antiga de comunicação, ou como meio lúdico na mão das crianças, o giz de calcário está intimamente conectado com diversas gerações ainda hoje”, explica o curador.

Fotografia Vórtice Cultural

Voese colaborou com Gosling na seleção das obras que compõem a exposição, criando uma narrativa visual coesa que guia os espectadores por uma jornada única e emocionante. O espectador irá se deparar com séries nas quais o artista se apropria de objetos e de imagens, furtando-lhes o significado original e usando de traquinagens como maquiar bois – com direito a delineador colorido – e lhes dar colares de doces, ou criando cenas com fósforos animados que queimam a caretice com muita espirituosidade.

Suspensos na sala, encontramos as serigrafias em linho com ícones, ídolos e celebridades que permanecem como marcas em nossa memória e que fazem parte da nossa história. A reflexão iconológica a despeito do carinho pela lembrança também pode evocar questões de identificação e subjetividades que formam nossos eus.

Ao longo do espaço nos deparamos com objetos cobertos de giz, carteiras escolares e skates, mas também bolinhas de gude e peões, que emoldurados perdem o significado de meras brincadeiras para ganharem o status de retrato de uma época idealizada para alguns, imaginada para outros, inexistente para muitos.

Ainda solto no espaço, um jogo de amarelinha feito com as lentes de semáforos obsoletos agem em uma dupla significância, as cores indicam o momento em que se pode ou não andar, bem como quais os momentos em que devemos ter atenção – responsabilidade tipicamente adulta – mas a forma da brincadeira infantil nos deixa tentados a desafiar o sistema, e pular metaforicamente de uma “casa” para a outra em um pé só, testando nosso equilíbrio e com o único propósito: chegar até o final. A brincadeira lembra que o aprendizado também é amadurecimento.

Fotografia Renato Gosling

Fechando as séries apresentadas em “A verdade sobre a Nostalgia”, estão os Orbes que com sua explosão de cores mostram uma faceta mais abstrata de Gosling e que também serve de chamado à atenção, mas que diferente do semáforo, estão mais para aspectos de calmaria em meio ao caos imagético contemporâneo. 

A exposição estará aberta ao público no FAMA – Fundação Marcos Amaro, em Itú.

Sobre Renato Gosling 

Renato Gosling, 1976, natural de São Paulo. No seu trabalho se apropria de um trabalho paralelo e sinérgico ao mundo contemporâneo através de micro-narrativas e gatilhos para os espectadores terem suas sensações e exprimentações. No mundo atual onde o 140 caracteres predomina, Renato descarrega toda sua inquietude e ansiedade em objetos e fotos que transmitem o cotidiano popular Brasileiro, recorrendo a infância e memória afetiva.

Sobre o curador

Jhon Voese nasceu em Guarapuava, interior do Paraná e trabalhou por mais de 8 anos no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba – PR. Formado em História com Mestrado em Artes pela Unespar, onde escreveu sobre o Faxinal das Artes (2002). Atualmente cursa o doutorado em História na UFPR. Sua pesquisa atual trata da relação Arte e Ecologia e tem como objeto a mostra Arte Amazonas (1992) anunciada pelo MAM-RJ como contrapartida artística para a Eco-92.

Serviço 

“A Verdade sobre a Nostalgia” por Renato Gosling

DATA: Até 29 de setembro

LOCAL: FAMA – Fundação Marcos Amaro, R. Padre Bartolomeu Tadei, 09 – Alto, Itu – SP

ENDEREÇO: Rua Padre Bartolomeu Tadei, 09 – Alto, Itu – SP, CEP 13300-190.

HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO: Qua à dom e feriados das 11:00 às 17:00.

INGRESSO: R$ 10 // Com política de meia entrada e gratuito as quartas-feiras.

Por Gabriel Malagrino – Onix-Press

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