Prédios vivos: celebrar para preservar a história
Entender a necessidade do Dia Nacional do Patrimônio Histórico é enriquecer e proteger a cultura e a arquitetura brasileira
Comemorado todo dia 17 de agosto, o Dia Nacional do Patrimônio Histórico é um marco importante, pois nos lembra que a preservação é um caminho valioso para guardar a memória mais rica do país.
A data celebrada desde o ano de 1998 é uma homenagem ao historiador, jornalista e primeiro presidente da Iphan – Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional, Rodrigo Melo Franco de Andrade, que seria centenário no mesmo ano da primeira comemoração.
Um patrimônio histórico não é apenas um lugar, mas sim a impressão de uma cultura do Brasil e da região onde se encontra. São monumentos, casas, palacetes, elementos naturais, entre outros, que contribui para identificação e integração de um povo.
Por isso, neste dia especial, o arquiteto e urbanista pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo FAU/USP e diretor de arte da KPMO – Cultura e Arte, Marcello de Oliveira, separou cinco edifícios residenciais icônicos, os chamados “prédios vivos”, que representam patrimônios históricos do país canarinho, enriquece a cultura da sociedade e não podem deixar de ser vistos de perto.
– Edifício Copan: para falar de ícones temos que incluir as obras de Oscar Niemeyer, e não são poucas. Mas este, em especial, foi projetado na década de 1950, com a colaboração do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos. Para se ter uma ideia da importância do lugar, ele tem um CEP próprio.
Considerado um patrimônio de importância cultural, o Copan foi tombado no âmbito municipal, pois além de trazer referência ao início da verticalização de São Paulo e a um intenso crescimento imobiliário, ele mostra a quebra dos ângulos retos dos prédios ao redor com o seu formato em ‘S’.
Além de 1.160 apartamentos e 20 elevadores, o maior prédio residencial de concreto armado do Brasil, possui uma área comercial no térreo com 72 lojas e um cinema, atualmente desativado. O público pode visita-lo e contemplar uma vista panorâmica de São Paulo, no topo do prédio que um dia já foi visto de todas as regiões próximas ao seu bairro.
– Edifício Cinderela: situado em um dos bairros mais nobres da capital de São Paulo, Higienópolis, é um dos muitos edifícios das cidades de São Paulo e Santos que carrega a assinatura do construtor João Artacho Jurado, datado de 1956. O toque especial deste edifício é a mistura de texturas, estruturas e tons, com elementos vazados, guarda-corpos adornados e pastilhas em cores vivas. Apesar de não ser um edifício tombado, diversos moradores se empenham na sua preservação, aplicando a pintura dos espaços internos com as cores da época, e repondo luminárias que remetiam as originais que foram trocadas por spots comuns, por exemplo. Em seus pequenos detalhes, a característica arquitetônica original vai sendo mantida.
– Conjunto Residencial do Parque Guinle: o conjunto proveniente do parque homônimo, construído em 1920 na capital do Rio de Janeiro, como jardim do palacete neoclássico da residência de Eduardo Guinle, se transformou em uma nova forma de moradia. Tombado, o conjunto com seis edifícios residenciais, foi idealizado pelo arquiteto Lucio Costa.
Com uma linguagem inovadora ao que se aplicava na arquitetura brasileira, a estrutura conta com o uso de pilotis – um conjunto de colunas em sua base que sustentam o edifício e deixam a área livre do pavimento térreo. E além de sua convivência direta com a natureza do parque, ou seja, uma proposta inusitada, os admiradores da arquitetura podem perceber a utilização de cobogós de cerâmica (elementos vazados) e brises verticais de madeira que são voltados ao parque, que gera a identidade do conjunto, uma de suas características marcantes.
– Conjunto Governador Kubitschek: mais uma vez precisamos falar de Niemeyer, que projetou este ícone de Belo Horizonte em 1951, que representa a Minas Gerais e ao Brasil a idealização da habitação coletiva. Foi exaltada, principalmente, por trazer a intenção de implementar “uma cidade dentro da outra”.
O patrimônio tombado traz a quem o vê expressões simbólicas que aguçam a percepção e o imaginário, em que o pai da arquitetura moderna brasileira trabalha em duas escalas distintas. A primeira escala referência à natureza, contempla sua paisagem da Serra do Curral, e a segunda é a humana, com a elegância de quem passeia pelas calçadas que permeiam o conjunto e seus pilares, revelando uma estrutura viária urbana.
– Superquadra: Lúcio Costa, em Brasília, conseguiu contribuir significativamente com a história do urbanismo mundial. Isso porquê, a estrutura tradicional de um quarteirão foi rompida para dar espaço a um bosque ampliado e misturado aos blocos residenciais. Os pilotis livres deixam um grande espaço para o pedestre, construindo uma nova forma de moradia em área urbana.
Todo esse conjunto de urbanidade fez com que a Superquadra fosse inscrita na lista de Patrimônio Mundial, e mesmo com esse nível de importância, o residencial e seu entorno mostram o seu lado citadino, e a relação da vizinhança e convivência revelam o lado de uma cidade concreta e humana.
Marcello de Oliveira – diretor de arte da KPMO – Cultura e Arte. O traço, o desenho e as cores sempre sobressaíram entre os interesses de Marcello e tornaram-se decisivos em sua formação como arquiteto pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo FAU/USP (1994). Desenvolveu ao longo dos anos experimentações acadêmicas, no Brasil e no exterior. Dedicou-se ao estudo da história da arte, das artes plásticas e da fotografia, o que o levou a realizar diversas viagens temáticas com foco em arquitetura, design e arte universal. Esse multipluralismo definiu sua identificação com a área de criação de arte de livros, exposições e eventos.
Caroline Arnoldi – Enxame de Comunicação
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