Frustração na infância é necessária e faz bem à saúde mental. Conhecidos como “geração floco de neve”, jovens adoecem por não saber lidar com os desafios da vida adulta.

Aprenda a dizer não. Divulgação


Com uma fragilidade emocional elevada, os jovens adultos atuais – pessoas que atingiram a idade adulta no início dos anos 2010 – têm enfrentado dificuldades para lidar com as frustrações da vida. O reflexo na saúde mental da chamada “geração floco de neve” é o aumento nos casos de transtorno de ansiedade e depressão entre os brasileiros na faixa dos 20 e 30 anos.

O relatório Estado Mental do Mundo, divulgado pela Sapien Labs, revela que no Brasil o percentual de jovens entre 18 e 24 anos com queixas sobre a saúde mental é 39% superior ao verificado na faixa etária de 55 a 64 anos. A probabilidade das pessoas com menos de 30 anos terem problemas como ansiedade e depressão é até cinco vezes maior do que na geração de seus avós.

A psicóloga e psicopedagoga Daniela Jungles explica por que os jovens dessa geração são mais sensíveis e se ofendem com facilidade. “Normalmente são indivíduos mais frágeis, que acreditam ser especiais porque cresceram com pais superprotetores. Muitos pais, por trabalhar demais, desenvolvem um sentimento de culpa e para ‘compensar’ os filhos exageram na superproteção.”

O problema, aponta a especialista, é que ao poupar os filhos das frustrações da vida, os pais criaram jovens que se decepcionam ao chegar na faculdade e no mercado de trabalho. “A vida é especialista em nos frustrar. Se não aprendemos isso na infância e na adolescência, teremos problemas na fase adulta.”

Responsabilidade adiada
Ainda que não se possa generalizar, muitos jovens adultos “derretem” diante de problemas e, justamente por isso, ficaram conhecidos como geração floco de neve.

“Muitos jovens demoram a sair da casa dos pais, não querem casar ou ter filhos por causa da responsabilidade que isso traz”, avalia Daniela, professora e supervisora do Serviço-Escola de Psicologia do UniCuritiba – instituição que faz parte da Ânima Educação, uma das maiores organizações educacionais de ensino superior do país.

Mestre em Ciências da Educação pela Université de Sherbrooke, no Canadá, Daniela atribui a superproteção dos pais a um atraso no desenvolvimento da resiliência, um fator importante na hora de lidar com situações difíceis.

“Essa fragilidade tem sido a principal causa do aumento nos transtornos mentais entre os jovens. A resiliência ajuda a enfrentar uma adversidade e a sair mais forte dela. Uma situação difícil traz aprendizado a quem tem ferramentas para encará-la e é fundamental para o desenvolvimento emocional dos indivíduos.”

Aprender a dizer “não”
A dificuldade dos pais em dizer ‘não’ aos filhos é um agravante para o processo de amadurecimento. Segundo a psicóloga Daniela Jungles, os pais erraram querendo acertar e, apesar da boa intenção, precisam rever a forma como educam seus filhos.

“Os pais têm a missão de preparar os filhos para o futuro e, se for preciso, devem buscar suporte psicológico para aprender a dizer ‘não’ sem sentir culpa.”

Os jovens da geração floco de neve também encontram na psicologia a ajuda que precisam. “Em alguns casos, dependendo da gravidade do transtorno mental e da fragilidade emocional, é preciso buscar acompanhamento de um psiquiatra. O processo de fortalecimento é gradativo, feito em doses homeopáticas, e os pais também precisam ter paciência. Não é aconselhável mudar completamente, de forma abrupta, a postura em relação aos filhos”, ensina a professora de Psicologia do UniCuritiba.

Qualidades da geração floco de neve
Toda geração tem pontos fracos e pontos fortes, lembra Daniela Jungles. No caso dos “flocos de neve” não é diferente. Embora convivam com uma fragilidade exacerbada e, em alguns casos, um sentimento de superioridade, os jovens adultos da atualidade são extremamente criativos e inovadores.

Habilidade extrema com tecnologia, maior preocupação com o meio ambiente, empatia e preocupação com as emoções dos outros são características dessa geração.

“A verdade é que só falta equilibrar essas qualidades com a necessidade que os jovens têm de aprender a lidar com as adversidades do mundo. A vida é cheia de frustrações e saber superá-las nos fortalece emocionalmente e melhora a nossa saúde mental”, finaliza.

Sobre o UniCuritiba
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Tânia Jeferson – Mem Comunicação 

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