Tom Lisboa – Em FOCO

Tom Lisboa
Foto / Divulgação

Divulgação site antigo Publicada em 08/04/2007
http://www.guiasjp.com/opcoes.php?option=591&id_noticia=20317&id_canal=49
 
Tom Lisboa é Mestre em Comunicação e Linguagens, pela Universidade Tuiuti do Paraná. Sua produção artística começa em 1996, com pintura, mas a partir de 2000, passa a desenvolver projetos pessoais em várias áreas tais como fotografia, intervenção urbana e vídeo. É criador do Curso de Cultura Cinematográfica, onde ministra aulas de formação de platéia crítica em cinema.
Até 2006, constam em seu currículo quatro curadorias e sete individuais, entre elas quatro intervenções urbanas: ficções urbanas: o documentário (2004), polaroides (in)visíveis(2005), projeto cinematógrafo(2006) e Cowtadinhas(2006). Participou de quase 30 coletivas e publicou, em 2004, Entre a estatueta do Oscar e o Oscar da estatueta, resultado de sua dissertação de mestrado. Possui obras nos acervos do MAC de Campinas(SP), do Governo do Estado do Paraná e da Galeria de Arte Graça Landeira (PA).
Em 2005 ganhou o Prêmio Porto Seguro de Fotografia, na categoria pesquisas contemporâneas, e foi um dos mapeados no Rumos Itaú Cultural 2005/2006.

Katia Velo – Fale-me um pouco sobre a sua trajetória artística: formação, especialização, etc.
Tom Lisboa – Minha formação é multidisciplinar e acho que isto acabou influenciando o trabalho que realizo em artes visuais, onde geralmente sou rotulado de “multiartista” ou artista multimídia. Em relação à minha formação acadêmica sou bacharel em informática, especialista em marketing e mestre em comunicação (onde estudei cinema). Nunca cursei Belas Artes, mas estudei/pratiquei pintura, fotografia, cenografia e, agora, vídeo-arte. A tudo isto, ainda posso acrescentar meu interesse constante por arquitetura, literatura, quadrinhos e moda. Os trabalhos que fiz recentemente acho que refletem um pouco isso: as polaroides (in)visíveis são mini-cartazes (influência da publicidade) utilizados para refletir sobre fotografia e perceber o espaço urbano a partir de novos ângulos; projeto cinematógrafo são molduras (de pintura???) que remetem à questão do enquadramento presente tanto na fotografia quanto no cinema; palimpsestos, que é meu trabalho em vídeo-arte, ainda pouco divulgado, está na fronteira de todas estas áreas, tais como publicidade, fotografia, pintura e texto escrito.

KV – Você começou a trabalhar o espaço urbano em “Ficções Urbanas” em 2004? Como foi o processo de criação e a execução deste trabalho.
TL – O ano de 2004 foi um ano de retorno às artes visuais, com duas exposições: “Ficções Urbanas”, no centro de Curitiba e “A Fórmula Repaginada”, na Casa Andrade Muricy e MAC de Campinas. Com o fim do mestrado em novembro de 2003, pude retomar atividades que, embora não tenha eliminado, estava me dedicando com menos regularidade.
”Ficções Urbanas” foi uma exposição fotográfica a céu aberto composta por 20 outdoors. Totalmente viabilizada pela Lei Municipal de Curitiba, hoje eu vejo esta iniciativa como minha primeira tentativa concreta de manter e divulgar meu trabalho à margem do fechado círculo de arte curitibano.
”Ficções Urbanas” foi importante, pois deu início ao ciclo de intervenções urbanas que realizo em Curitiba todo mês de maio. O processo de criação e execução deste trabalho foi importante porque reacendeu o debate sobre intervenções urbanas na cidade e chamou a atenção para outros trabalhos que realizei posteriormente. Coincidiu também, e isto não foi proposital, com o início do interesse de instituições de pesquisa, como o Itaú Cultural, em entender melhor este movimento.
Um dos principais questionamentos desta exposição era a edição, sobre como uma imagem pode adquirir novos significados ao ser colocada ao lado de outra. Cada outdoor tratava de uma ficção urbana (as percepções que desenvolvemos por pertencer ao espaço urbano, tais como consumismo e individualidade) e cada “ficção urbana” era retratada através da associação 4 ou 5 fotografias que tirei de vários tipos de programas de televisão. Interessa-me muito este deslocamento, esta ”resignificação” que as imagens a partir do contexto em que são colocadas.
Em 2005, Ficções Urbanas ganhou a medalha de prata no Prêmio Colunistas Paraná, na categoria Cultura e Lazer, por causa do uso original de um suporte (o outdoor) que normalmente é usado apenas para vender/divulgar produtos. Por causa da exposição, o outdoor virou notícia e boa parte do público passou a vê-lo de outra forma.
Quem quiser conhecer melhor esta exposição basta acessar
www.sinTOMnizado.com.br/ficcoesurbanas

KV – A intervenção “Polaroides (in)visíveis” difere-se muito de “Ficções Urbanas” como surgiu a idéia desta intervenção?
TL – Alguns alunos da PUC/PR me convidaram para fazer um cartaz para divulgar um site sobre intervenções urbanas. Aí eu pensei que este cartaz também deveria ser uma intervenção. Tanto que cada polaroid traz o endereço do site. Sendo assim, no protótipo que eu desenvolvi, coloquei o site deles. Depois, quando decidi tocar este projeto sozinho, coloquei o endereço do sinTOMnizado.
E isto tudo coincidiu com meu desejo de bancar projetos de baixo orçamento. Como não é possível conseguir sempre patrocínio, queria continuar produzindo sem depender de grandes verbas. Acho que fiz bem a lição de casa. Cada polaroid sai por uns 15 centavos. Se Ficções Urbanas me colocou no circuito de intervenções urbanas, polaroides (in)visíveis me apresentou a liberdade criativa que a ausência de recursos pode proporcionar.

KV – “Polaroides (in)visíveis” ganhou notoriedade a partir da premiação em 2005 do Prêmio Porto Seguro de Fotografia (um dos principais prêmios de fotografia do Brasil) na categoria Pesquisas Contemporâneas. Os Salões de Arte ainda são espaços propulsores de arte de vanguarda?
TL – O salão de arte, qualquer um, passa por um processo de seleção, por um júri. Desta forma, o que vai estar sendo exposto ao público tem o olhar deste grupo. Se a proposta destes críticos/curadores for de vanguarda o salão terá esta característica.

KV – Lançar no espaço urbano, um novo olhar sobre algo que não se vê mais (olha e não vê), ou não vê com a mesma intensidade é um dos objetivos da sua intervenção em “Polaroides (in)visíveis.”.
TL – Creio que as polaroides (in)visíveis lançam dois olhares importantes: para o meio que nos circunda, revelando imagens ocultas do espaço urbano e para a própria fotografia como algo construído pela subjetividade de alguém. Esta segunda característica é algo recorrente em minha pesquisa fotográfica, que procura deslocar a importância da técnica para o olhar do fotógrafo.

KV – “Polaroides (in)visíveis” (Curitiba) foram realizadas em pontos de ônibus. O local foi escolhido devido a maior possibilidade de entre a espera e o ônibus (momento de divagação) o futuro passageiro poderia estar mais suscetível para ver a “foto”.
TL – Sim. Na correria das grandes cidades, só quando nos encontramos “sem fazer nada” é que procuramos algo para nos distrair. Nos pontos de ônibus às vezes ficamos 15 minutos sem fazer nada, o que coloca este espaço como um local privilegiado para a reflexão ou observação.

KV – Esta intervenção ocorreu em outras cidades. Cite-as e descreva um pouco como ocorreu o processo por lá.
TL – A primeira cidade a receber as polaroides (in)visíveis foi Porto Alegre. Através de uma parceria com a Usina do Gasômetro, estive durante 10 dias na capital gaúcha para criar quarenta polaroides para este novo espaço urbano, e isto implica em horas de caminhada e observação de detalhes de tudo o que está ao redor. Foi muito gratificante e, com certeza, agora tenho uma relação muito mais próxima com esta cidade, embora já tivesse estado lá outras vezes.
A terceira cidade foi Buenos Aires. Estava lá de férias, mas como sempre levo polaroides “em branco” na mala, resolvi explorar uma parte da cidade neste período. Neste sentido, esta intervenção é perfeita porque desvia nosso olhar do que é turístico e estabelecido e chama a atenção para os detalhes e aquilo que é realmente inusitado.

KV- Muitas “fotos” foram roubadas ou jogadas no lixo. Esta ação também era esperada dentro da intervenção. Pode-se interpretá-la como ignorância, indiferença ou fetiche.
TL – Eu encaro como parte do processo. Todas as polaroides (in)visíveis são fixadas com fita crepe, ou seja, eu nunca me propus a fazer algo duradouro. Por mais irônico que possa parecer, acho que as polaroides ganham em visibilidade quando desaparecem. Se elas estivessem sempre visíveis, o transeunte iria se acostumar com elas, não percebendo mais as obras. Agora, como é possível que a intervenção seja realizada por outras pessoas, a cada ressurgimento as polaroides voltam a chamar a atenção, como da primeira vez.

KV – O “espaço virtual” é um grande campo de atuação para você, através dele são feitas intervenções onde se pode assumir o papel de “interventor”. Como você sente esta atuação em seu trabalho.
TL – Eu encaro o espectador como uma espécie de co-autor. Na verdade, todo bom espectador é um co-autor de qualquer obra de arte, já que ele acrescenta seu olhar ao olhar do artista. No caso específico das polaroides, quem vai fazer a imagem é o espectador. Já em Projeto Cinematógrafo, o diretor do enquadramento também vai ser o espectador, ficando meu trabalho resumido a “apenas” fornecer a moldura. Para mim é natural esta parceria e a internet tem sido muito útil para incentivá-la. Através dela o espectador pode até mesmo fazer a intervenção das polaroides (in)visíveis no meu lugar. O espaço virtual está sempre presente no que eu faço e, na maioria dos casos, não é apenas para documentação, mas uma extensão conceitual da obra/trabalho.
KV – As “Intervenções privadas” são uma mistura de intervenção e performance. Porém, neste caso o espaço não é o urbano, pois as “polaroids” são anexadas em banheiros dentro de museus, galerias e espaços culturais e esta ação é fotografada. Como você analisa as “Polaroides in(visíveis)” e “Intervenções Privadas” há uma víeis entre elas.

TL – Sim, existe. Tanto que eu não uso somente o termo “intervenções privadas”. Eu gosto sempre de dizer “polaroides (in)visíveis – intervenções privadas”. Este é um desdobramento da intervenção urbana polaroides (in)visíveis e, talvez, a grande diferença seja a colocação destas obras no espaço privado, perto da privada (banheiro). O restante é muito parecido: a inserção na rua e nos museus não é autorizada, as polaroides continuam trazendo textos e não imagens, a fixação é feita com fita crepe e a fotografia para documentar a ação é sempre tirada (na rua, eu documento os locais que visitei para colocar meu percurso na internet e, no museu, eu preciso fotografar para comprovar que estive lá). Ou seja, o “procedimento metodológico” é o mesmo. Apenas as questões conceituais que cada desdobramento suscita que divergem.

KV – Há também a questão da imagem, pois em “Polaroides in(visíveis)” cabe ao espectador a função de buscar a imagem e em “Intervenções Privadas” a imagem já está pronta, portanto a inquietude do olhar transfere-se para ação. Comente.
TL – Tanto nas polaroides (in)visíveis quanto nas “intervenções privadas” o espectador vai estar construindo/buscando imagens. Eu só mudo o espaço. No primeiro caso, as imagens são do espaço urbano e, no segundo, dentro do recinto do banheiro. Tanto que eu não mudei nada na obra em si. Nos dois casos ela continua sendo feita em papel sulfite amarelo, com textos escritos e colada com fita crepe.

KV – O projeto “Cinematógrafo” é uma ampliação do “Polaroides in(visíveis)”?
TL – Não sei se é uma ampliação. Um amigo me disse que eu “resumi” as polaroides. Eu vejo quase como uma seqüência lógica. Em polaroides (in)visíveis eu criava uma obra que descrevia um enquadramento para que o espectador pudesse exercitar o olhar fotográfico. Em Projeto Cinematógrafo eu acho que eu desenvolvi um equipamento e não uma obra. Aqui eu não tenho mais uma obra com instruções de “como olhar”. Eu apenas coloco um equipamento à disposição de alguém. A obra em si vai ser literalmente enquadrada pelo observador. E eu, como artista, não vou nem saber o que ele viu/enquadrou com o Cinematógrafo. Já nas polaroides, como sou eu quem faz o texto, eu tenho uma boa noção da visibilidade que a obra tem.

KV – O artista sempre propõe uma nova forma de ver, no seu caso, além disto, você propõe uma nova forma de posicionar-se diante do que se vê, criando a partir de um novo ponto de vista (tanto fisicamente quanto da criação da imagem). Esta atitude do espectador está intrinsecamente ligada ao seu trabalho.
TL – Eu procuro sempre uma forma de dialogar com o espectador, muitas vezes colocando-o até mesmo no papel de artista. A arte rompe com nossa imobilidade de ver as coisas. Agrada-me muito poder compartilhar isso.

Maiores informações:
projeto cinematógrafo
www.sinTOMnizado.com.br/cinematografo

  

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