João Turin: o maior escultor animalista no Brasil

Legado do artista tem entre seus principais destaques as esculturas de animais selvagens, em especial de onças, que podem ser apreciadas no Memorial Paranista, em Curitiba

João Turin admirando sua obra / Divulgação

Na obra deixada por João Turin (1878-1949), que pode ser apreciada gratuitamente pelo público que visitar o Memorial Paranista, em Curitiba, um dos temas de maior expressão e destaque são as esculturas de animais, que o artista retratou com fidelidade, o que lhe valeu o título de maior escultor animalista do Brasil.

Em quase 50 anos de carreira ele imortalizou animais selvagens ou domésticos, em especial a onça, maior felino da América Latina e um dos símbolos da fauna brasileira. Elas foram retratadas em diversas situações (em repouso, em combate, brincando com um filhote, rugindo, etc), em peças de bronze em pequeno e médio porte na área interna do Memorial Paranista, até obras ampliadas em grandes proporções no Jardim de Esculturas.

Para ser um escultor animalista, não basta esculpir animais (o que foi feito aos milhares em todas as épocas e civilizações), mas sim “representar o animal como um tema em si mesmo e não mais como símbolo, atributo, alegoria ou mero enfeite, ocupando lugar secundário nas bases ou pedestais dos monumentos”, segundo explicação do professor e crítico de arte José Roberto Teixeira Leite, que realizou a mais completa pesquisa sobre o artista, publicada em seu livro “João Turin, Vida, Obra, Arte”.

A trajetória da escultura animalista

Memorial_Paranista_JJJoão Turin – Onça Brincando com Filhote. Crédito: Maringas Maciel

Segundo Teixeira Leite, foi no século XIX, na França, que surgiram os escultores animalistas, tendo a frente de todos Antoine-Louis Barye, quando em 1831 conseguiu emplacar sua escultura de um tigre devorando um gavial no conceituado Salão Parisiense, vencendo a resistência que os júris tinham em aceitar obras sobre animais. Turin também conquistou espaço nesta importante exposição, 90 anos depois de Barye. Durante o curso na Academia de Bruxelas (na Bélgica) ganhou prêmios em anatomia animal, e em 1921 expôs a escultura de um cão em tamanho natural no Salão Parisiense. Chegou a ser saudado por um anônimo articulista como “um grande escultor de animais”.

Turin conheceu as obras de Barye e de outros animalistas, que serviram para confirmar ou indicar um caminho a seguir, imprimindo sua própria personalidade artística. O Brasil tem artistas que esculpiram animais (entre eles, Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho), porém, não existe qualquer outro brasileiro a quem mais seja adequado o título de escultor animalista do que João Turin, de acordo com Teixeira Leite.

Além de ser notável o senso de observação e o profundo conhecimento da anatomia animal, suas obras assumiam conotações simbólicas. “A despeito da fidelidade anatômica e das proporções corretas, não é o animal em si que importa, mas o que simboliza, tanto que para representar o Marumbi, maciço da Serra do Mar que se avista de sua cidade natal, não encontrou forma melhor que a de duas onças em furioso embate, magníficos de força e agilidade, cujos dorsos habilmente reproduzem os contornos da rocha”, explica o pesquisador. A obra em questão, “Marumbi” é o destaque principal do Jardim de Esculturas do Memorial Paranista, presente em uma ampliação em proporção heróica, com quase 3 metros de altura e 700 quilos.

Observação de onças no zoológico

A grande inspiração de João Turin para o estudo da anatomia animal eram as onças do Passeio Público, primeiro zoológico de Curitiba. Como dormiam a maior parte do dia, o artista as visitava à noite, quando estavam mais alertas. Assim poderia captar seus movimentos em rápidos esboços. Muitas vezes oferecia carne aos animais para que ficassem quietos e ele pudesse desenhá-los com tranquilidade. Mais tarde, em seu ateliê, passava os croquis para realizar suas obras em argila até lhes imprimir a silhueta, o volume e a posição desejados.

Duas esculturas de onças de João Turin lhe renderam premiações no Salão Nacional de Belas Artes: medalha de prata em 1944 por “Tigre esmagando a cobra” e medalha de ouro em 1947 por “O rugir do Tigre”, mais conhecido como “Luar do Sertão” (presente em dois espaços públicos brasileiros: Centro Cívico em Curitiba e Praça General Osório, no Rio de Janeiro).

Serviço:
Memorial Paranista João Turin: Rua Mateus Leme, 4700 (Curitiba, Paraná).
Entrada gratuita.
Agendamento de visitas guiadas no site www.curitiba.pr.gov.br/memorialparanista
Site sobre João Turin: joaoturin.com.br
Redes sociais: @escultorjoaoturin e facebook.com/escultorjoaoturin

Vídeo sobre o Memorial Paranista João Turin:

https://youtu.be/0ZevRuwdti8

Rodrigo Duarte / Lide Multimídia

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