Flores no autoatendimento: produtores paranaenses usam a criatividade para enfrentar a crise
Cálculos divulgados pelo setor eram que mais de R$ 1 bilhão deixariam de ser vendidos no Brasil desde o início da pandemia; Dia dos Namorados é esperança
Cálculos divulgados pelo setor eram que mais de R$ 1 bilhão deixariam de ser vendidos no Brasil desde o início da pandemia; Dia dos Namorados é esperançaMarice Moretti Kassies é engenheira agrônoma e sempre trabalhou com grandes culturas, mas em novembro do ano passado decidiu largar a soja para plantar crisântemos e margaridas na própria propriedade, em Castrolanda, na cidade de Castro (PR). A colheita nos 2.500 m² de estufas começou em abril, mas o que ela não contava é que seria logo após à chegada da pandemia da Covid-19 ao Brasil. “Na primeira semana foi muito difícil. Eu pensei em parar, mas mesmo assim decidi insistir porque acredito que as flores podem ter importância nesse momento”, diz.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), em toda a cadeia, o valor calculado que o setor deixou de faturar apenas nas duas primeiras semanas pós-coronavírus no país soma R$ 297,7 milhões. Até o início de maio, a estimativa era que o setor deixaria de vender R$ 1,364 bilhão.
E a crise não escolhe produtor grande, pequeno, novo ou antigo na área. A cunhada de Marice, Olga Kassies, é produtora de gypsophila, o conhecido mosquitinho, há mais de 20 anos. Em sua propriedade, a produção já chega a 1 hectare, com mais de 5 mil metros quadrados de estufas. Mais recentemente a plantação de mosquitinho ganhou a companhia da boca de leão. E é essa a espécie que mais tem sofrido com a pandemia. “A gypsophila ainda consigo fornecer para floriculturas que colocam em buquês, mas a boca de leão é mais complicada porque é usada basicamente em casamentos e formaturas que estão completamente suspensos”, lamenta.
Olga precisou usar a criatividade e a herança holandesa para manter a atividade. “No Brasil, as pessoas não têm o costume de colocar flores em casa. Mas isso é muito comum na Europa, então decidi arriscar e colocar o produto com preço de atacado direto para o consumidor”, conta. Ela usou um sistema europeu de colocar o arranjo pronto, em formato de autoatendimento, em que a própria pessoa pega e paga. As flores são deixadas em um posto de gasolina e um supermercado da região.
Para o vice-presidente da Associação Cultural Brasil Holanda, Albert Kuipers, o perfil do povo holandês sempre foi de muita dedicação e resiliência. “Os costumes simples e práticos são replicados pelos descendentes que chegam ao Brasil. E assim as famílias buscam novas formas de enfrentar a dificuldade”, argumenta.
Queda de demanda enfrentada com a criatividade
Ainda nos Campos Gerais, em Arapoti, Frederika Hoogerheide planta oito espécies de flores nos 7.200 m² de estufas. Ela conta que a demanda caiu para 1/3 do que costumava vender antes da pandemia. A mais afetada é o crisântemo. “Além dos cancelamentos dos eventos, as funerárias da cidade adotaram novas normas, com velórios mais curtos, e acabamos muito afetados”, diz.
Ela conta que as flores que não tem conseguido vender são guardadas numa câmara fria para que possam durar mais tempo. A rotina também segue na propriedade da Olga. Mesmo sem vender toda a produção, a colheita é mantida três vezes por semana. “Precisamos arriscar porque preciso garantir que terei o produto quando o mercado reaquecer”, explica. Além de um possível reagendamento dos eventos suspensos, a expectativa agora é pelo Dia dos Namorados.
A esperança e a criatividade também são as estratégias da Marice. “Vamos reforçar nossas redes sociais e pretendo mostrar como é o dia a dia de uma produtora de flores para que as pessoas possam conhecer e chegarmos em outros públicos”, planeja.
De acordo com o Ibraflor, no Brasil, o setor movimenta R$ 8,67 bilhões em toda cadeia, gera 210.000 empregos diretos e mais de 800.000 indiretos. No Paraná, assim como é o caso da Frederika, da Olga e da Marice, a produção de flores cresceu nos últimos anos com o investimento de pequenos produtores familiares. Elas dividem a propriedade com o cultivo de outras culturas e criações, como batata, suínos e gado. Diversificação que também tem dado o apoio para que as famílias consigam manter as tradições e a sobrevivência.
Sobre a ACBH
A Associação Cultural Brasil-Holanda (ACBH) é uma organização formada por holandeses e descendentes de holandeses no Brasil, oriundos de diversas colônias. Visa preservar o patrimônio histórico artístico e cultural holandês e brasileiro para a posteridade. Também quer incentivar, desenvolver e divulgar as várias formas de expressão cultural. Mais informações: https://www.acbh.com.br/
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