Famílias precisam falar sobre dinheiro com crianças e jovens, alertam especialistas

Educação financeira é um tema a ser trabalhado com as crianças desde cedo na família
Crédito: Divulgação

Administração financeira se aprende em casa. É o que defende o educador e psicólogo Marcos Meier, consultor da Conquista Soluções Educacionais. Segundo ele, há uma diferença grande entre querer dar aos filhos tudo o que não se teve e fazer com que eles conquistem seus objetivos por meio do trabalho. Além do foco distinto, as duas ações requerem posturas diferentes – da família e da escola – e trarão resultados muito diversos na vida dos jovens. Isso porque, explica, existe uma grande diferença entre preço e valor, e é preciso saber reconhecer cada um.

“O preço é quantidade em reais que você precisa para comprar um objeto. Já o valor é a quantidade de tempo que um trabalhador investe para conquistar esse montante de dinheiro”, esclarece. “A sensação de gratuidade, de posse sem esforço e de conquista sem trabalho é decorrente da falta de educação financeira”, acredita o consultor.

Se um carro popular custa R$ 30 mil, este é o preço do veículo. No entanto, para um trabalhador que ganha um salário mínimo, isto significa investir mais de 30 meses de seu salário integral. Ou seja, o valor do carro são três anos de trabalho. Ainda que o indivíduo tenha um salário muito maior que o mínimo, o valor do carro continua altíssimo em termos de tempo de vida investido. Para Meier, essas reflexões precisam ser ensinadas às crianças e adolescentes. “O ideal seria a escola ajudar com palestras, projetos e aulas. No entanto, a família é o principal agente desse trabalho.  E o exemplo dentro de casa é fundamental, a começar pelo planejamento financeiro feito em conjunto. A ideia de reunir pais e filhos para debater os ganhos e os gastos da casa também é defendida pelo palestrante e especialista em finanças comportamentais, Altemir Farinhas.

“A maioria dos brasileiros não tem controle dos seus gastos e a desculpa é sempre a mesma: ‘não gosto, não sei lidar com planilha, não encontrei nenhum software, ninguém me ajuda’. Neste caso, o planejamento financeiro familiar pode ser feito em um caderno, basta ter vontade de reunir a família uma vez por mês e determinar quem faz o quê”, avalia Farinhas, que também atua como consultor da Conquista Soluções Educacionais. Para ele, cada membro deve ter uma função, desde anotar os gastos em um caderno até preencher a planilha no computador, questionar e contribuir para a redução e o corte de despesas. Todos devem participar tendo em mente os objetivos, metas e sonhos a serem realizados.

Ao colocar os números na ponta do lápis fica mais fácil entender em qual dos cenários a família se encontra: se as receitas forem menores que as despesas, ela está endividada. Se elas forem iguais, o futuro é incerto. Mas se a receita for maior é preciso manter o equilíbrio financeiro, investir bem e aproveitar a vida com comedimento.

“A família é como um time que precisa jogar junto para vencer. De nada adianta a esposa ser econômica e o marido não. Também não adianta pais poupadores com filhos gastadores. É preciso controle contínuo e conjunto. Os esforços devem vir de todos e cada um deverá abrir mão de algo em prol do time”, conclui o especialista. Na escola, inúmeras disciplinas também podem abordar o tema economia financeira de modo lúdico, aproximando ainda mais o conhecimento da vida prática.

Confira as dicas do professor Marcos Meier para trabalhar finanças com as crianças:

  1. Mesada. Os pais devem ensinar que uma parte é para gastos pessoais (10%) e as outras duas para poupar e investir na compra de algo maior. Para os adolescentes aconselha-se um valor suficiente para lanches e pequenos gastos, mas nunca grande a ponto de se equiparar com o valor de um estágio.

  2. Planejamento. Ensine ao seu filho que o esforço de guardar será compensado pela alegria de obter algo mais caro, que não seria possível sem planejamento.

  3. Gratidão. Ensine a agradecer! Todo mês diga ao seu filho: “acabei de pagar a mensalidade do seu colégio”, ou “hoje paguei o seu curso de inglês”. É importante que o jovem perceba o esforço, e que o sucesso é fruto de trabalho e não de sorte ou ajuda.

  4. Exemplos. Explique ao seu filho os porquês das ações: “filho, todo mês eu coloco na poupança esta quantia, para que no futuro a gente tenha dinheiro suficiente para alguma emergência ou para quando quisermos e precisarmos comprar algo de valor grande”.

  5. Visão crítica. Quando seu filho for bombardeado com propagandas, mostre o outro lado. Ensine-o a avaliar para não ser vítima do consumismo.

  6. Presenteie com livros. Especialmente livros voltados ao ensino de finanças para jovens e crianças.

  7. Perdeu? Não substitua imediatamente! Mesmo que seja algo necessário como o celular, vale a pena sofrer um pouco. A ideia é ser responsável com os pertences e entender quanto custa tê-los de volta.

  8. Tarefas domésticas ou desempenho escolar não devem ser remuneradas. Não pague ao seu filho pela louça lavada ou serviço doméstico. Ensine-o que cada um tem que participar da família de alguma forma.

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