POBREZA NÃO É DESTINO
José Pio Martins*
Uma cerca corta a cidade de Nogales ao meio. De um lado, ao norte, está Nogales, estado do Arizona. Do outro lado, ao sul, está Nogales, província de Sonora. Em Nogales ao norte, a renda por habitante é de US$ 30 mil anuais. A escolaridade média é alta. O sistema de saúde é bom. A taxa de criminalidade é baixíssima. Ninguém tem medo de sair às ruas. O padrão das moradias é alto. A população confia no governo. Enfim, Nogales, no Arizona, é uma cidade desenvolvida, com elevado padrão de bem-estar social.
Do outro lado da cerca, em Nogales ao sul, a renda por habitante é de um terço da vizinha do norte. O sistema educacional é precário. A escolaridade é baixa. O sistema de saúde não funciona. A criminalidade é alta. As moradias são ruins. As estradas, esburacadas. Abrir um negócio é arriscado. O governo é corrupto. Enfim, Nogales, em Sonora, é uma cidade pobre, atrasada, com baixo padrão de bem-estar social.
Como é possível as duas metades da mesma cidade, mesmo povo, mesmo solo, mesmo clima, serem tão diferentes? Por que uma é rica e a outra, miserável? O leitor já deve ter pensado: claro, Nogales ao norte, no Arizona, pertence aos Estados Unidos; Nogales ao sul, em Sonora, pertence ao México. Quando o México ficou independente, em 1821, a região de “Los Dos Nogales” (as duas nogueiras) pertencia ao Estado mexicano chamado Velha Califórnia. Após a guerra México-Estados Unidos de 1846-1848, os Estados Unidos adquiriram territórios mexicanos e as duas cidades nasceram, separadas por uma cerca.
A primeira conclusão é óbvia: a Nogales do Arizona desfruta das instituições norte-americanas, de alta qualidade, propícias ao desenvolvimento econômico e social, enquanto a Nogales de Sonora sofre com as instituições mexicanas, de baixa qualidade, ineficientes e corruptas. Pobreza não é destino, e pode ser superada mesmo nos países com escassos recursos naturais, desde que, para começar, tenham instituições eficientes e de alta qualidade.
Com instituições boas, nas quais a população confia, baixo nível de corrupção e um corpo de leis que crie incentivos aos negócios, estimule o empreendedorismo e premie o trabalho e a competência, o progresso material e o desenvolvimento social acontecem. A maior de todas as instituições é o governo, em seus três níveis de poder. Se o governo é ruim, a corrupção é alta e a eficiência é baixa, e isso é o quanto basta para minar as chances de desenvolvimento.
Em alguns países, diante da pobreza causada por maus governos e instituições ruins e corruptas, muitas pessoas e políticos pedem mais Estado e mais governo. É o mesmo que colocar a raposa para cuidar do galinheiro e, diante do sumiço de galinhas, solicitar mais raposas para solucionar o problema. Há algo de esquizofrênico em não confiar na política e, mesmo assim, pedir mais governo, mais estatização e mais impostos.
Os países desenvolvidos são os que têm um forte setor produtivo privado, ambiente favorável aos investimentos, leis boas e estáveis, governo eficiente, respeito ao direito de propriedade e liberdades individuais. O exemplo das duas cidades de Nogales – que, apesar de tão iguais, são tão diferentes – é apenas um, mostrando o que funciona e o que não funciona. Mas os socialistas não cedem às evidências e aos fatos: continuam desejando o que não funciona.
*José Pio Martins é economista e reitor da Universidade Positivo.
Deixe um comentário