ENTREVISTA COM O ENGELBERT SCHLÖGEL
Engelbert é graduado em Letras Português-Inglês (PUC-PR), mestre em Educação (Gestão de Instituições de Ensino Superior) pela PUC-PR, e doutor em Estudos Transdisciplinares em Filosofia, Sociologia e Mundialização. (Coimbra, Portugal 2005/2007). Possui em seu currículo vários cursos nos Estados Unidos e na Europa. Foi secretário da Educação e da Cultura no município de São José dos Pinhais (PR) e membro do Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná. Atuou como professor do ensino fundamental, médio e superior. Fundou (1989) e dirigiu por 16 anos a Dayton English School. Foi condecorado com prêmios diversos (no Paraná e no Distrito de Coimbra, Portugal), a exemplo do Prêmio Paraná de Educação, Prêmio Pinheiro do Paraná e Prêmio Montemor-O-Velho.
Para Engelbert Schlögel “Ser voluntário é uma missão”. Em suas viagens como voluntário em diversos locais, no Brasil e em diversos outros países – Nepal, Índia, Bangladeche, Quênia, Polônia e muitos outros – teve a possibilidade de conviver com pessoas de variadas culturas. Confira mais sobre este fascinante trabalho na entrevista a seguir:
Como foi a sua experiência como Secretário de Cultura de São José dos Pinhais?
Costumo afirmar um fato bem marcante em minha vida. Apesar de ser um constante estudioso na área da educação, foi na Secretaria da Cultura de São José dos Pinhais que encontrei a fase mais ‘saborosa’, profissionalmente, porque passei, até hoje.
No começo, tudo parecia difícil, dada à escassez de recursos, nesta pasta, não apenas em São José, mas em todo o Brasil. Na realidade, isso reflete a falta de visão do poder público, pois cultura também é sinônimo de formação, bem-estar. Por isso mesmo, contando com uma equipe da qual sempre me orgulhei, o foco da nossa gestão foi na capacitação de pessoas em se tratando de linguagens culturais: artes plásticas e cênicas, dança, literatura e música. Gosto de incluir o patrimônio histórico, pois vejo que precisa ser tratado de forma ímpar, ou perderemos o registro (tangível e intangível) da história deste país.
Criamos várias frentes, no decorrer daqueles quatro anos. Para minha satisfação, boa parte delas se mantém, a exemplo do Museu do Boneco Animado, O Carnaval de Bonecos, as escolas de dança e teatro. Restauramos o museu municipal e diversos outros espaços foram promovidos, assim como ações desenvolvidas, sem limite quanto ao querer levar à comunidade o melhor que poderíamos oferecer.
Recordo-me da criação da FEMULI, também. Mas o que realmente marcou, a meu ver, e que veio a dar continuidade ao que iniciamos foi a capacitação significativa de pessoas, levando a São José, na época, a ser a representante dos municípios da região em termos de cultura. Cultura é trabalho, sentimento e satisfação juntos. Não há como negar este investimento à sociedade.
O que é ser voluntário?
Voluntariar, a meu ver, é ter uma grande oportunidade de se conhecer melhor e ao mundo, mesmo que este seja sua rua, bairro, cidade onde você mora. Não há limite de espaço, tempo, de objetivo. Agir em prol do bem para alguém, animal irracional ou plantas, pode representar uma experiência realmente ímpar na vida. Na minha visão, assim como no meu sentimento, é voluntariando que eu me encontro mais com Deus.
Qual é a melhor forma de ajudar?
Acredito que – ainda que respeite todo tipo de ajuda, de voluntariado, como sendo uma atitude de boa fé e para o bem – não existe uma ação ´melhor´. O que deve existir, sim, é uma um desejo e ação para o bem. E esta definirá, muitas vezes, o voluntariado.
Frequentemente, buscamos tentar encontrar programas, instituições distantes que nos acolham para praticarmos um voluntariado. No entanto, deixamos de enxergar o óbvio: alguém ou algo que precisa de nosso apoio, por vezes, muito perto de nós mesmos.
Estou certo de que é mais convencional as pessoas acreditarem que em asilos, orfanatos, favelas, escolas, hospitais, centros comunitários, parques, igrejas, templos (…) se encontram mais possibilidades de voluntariarem. E isso é fato. No entanto, sugiro que a ação voluntariada esteja, antes de tudo, direcionada a quem realmente precisa e, não, por ser algum lugar mais confortável para o voluntário. Insisto, no entanto, que toda forma de voluntariado terá validade. E se você se permitir e puder, busque quem realmente precisa de você! Afirmo que vale a pena!
Por que em nosso país não temos esta cultura, ou seja, ser voluntário?
Acredito que somos um país que, apesar de se dizer solidário, não é voluntarioso – por natureza, de forma geral.
O comodismo e certos receios impedem muitos brasileiros de agirem em prol do outro. Canso de escutar que esta ou aquela ação é de responsabilidade do governo. Mas, raramente, escuto que, agir para o bem, independe de quem quer que seja – povo ou governo.
Considero que o brasileiro já está mais propenso a voluntariar. Há anos venho acompanhando esta jornada, em diversas frentes voluntariadas, e percebo, com satisfação, um envolvimento maior, ainda que incipiente. Há muita gente e outros seres precisando de apoio. Voluntariar pode e salva vidas. Resgata hombridade. Traz autoconhecimento, paz interior e ameniza dores do corpo, espírito.
Conte-nos um pouco sobre a sua experiência que resultou em um livro.
No tocante a voluntariado, na verdade, escrevi alguns livros (Base Editorial), mas os dois que mais chamam a atenção são UMA ELEFANTA E UM HOMEM EM CHITWAN, NEPAL e BANGLADECHE: ONDE ENTENDI O QUE É SER FELIZ.
Eles representam, assim como os demais – todos escritos em forma de narrativas, uma parte dos programas voluntariados que fiz, aqui no Brasil (PR, MA, TO, AL, PE, DF) e também na Índia, Tibete, Nepal, Quênia, Bangladeche, África do Sul, e por aí adentro. Vale dizer que todas as vezes que fui voluntariar, inclusive no exterior, eu paguei por todas as minhas despesas (transporte, hospedagem, alimentação…). E este é um fato que parece incomodar alguns brasileiros, ou seja, o de arcarmos com nossas despesas. No entanto, é preciso analisar que se a organização para onde se vai precisa de ajuda, como poderia, além dos próprios problemas, ainda arcar com as despesas de seus voluntários?
Quanto aos livros, ainda, eles todos têm o objetivo central de incentivar o voluntariado em crianças e jovens: público alvo. Se para cada livro adquirido e lido corresponder uma ação voluntariada, terá valido o meu empenho. A propósito, o valor da venda, referente ao autor (eu), é 100% revertido a programas voluntariados.
As religiões parecem não atuar de forma tão efetiva, como acredito que deveriam, em ações voluntárias. Como você vê?
Tenho estudado, apreciado algumas religiões em minha vida. No entanto, são poucas as que estão voltadas – até onde conheço – a promover o verdadeiro bem ao próximo. Uma das religiões que estudei, o Budismo, ensinou-me muito. Passei a compreender e valorizar, inicialmente durante minhas idas a países orientais (Nepal, Tibete…) a ação fundamentada na simplicidade, convívio e respeito entre seres.
Costumo dizer que, independente de minha formação religiosa, O VOLUNTARIADO É A MINHA RELIGIÃO. É nele que a presença infinita de Deus é revelada, para mim, por meio de ações do bem e para o bem.
Quais são seus projetos para o futuro?
Em se tratando de voluntariado, a minha determinação está em manter um programa denominado ENGELBERT VOLUNTÁRIO. Por meio dele, e contando com apoio de pessoas fantásticas, vimos estruturando um trabalho que tem por objetivo constituir uma OSCIP que possa se responsabilizar por frentes de ações, as quais possam trazer mais e mais bem à sociedade, à humanidade.
A própria conscientização da promoção do BEM, em si, hoje em dia, já indica atuar com voluntarismo, pois as pessoas parecem valorizar, cada vez menos, o bem, devido ao egoísmo, falta de visão social, falta de dignidade humana, muitas vezes.
Tenho, bem claro, que voluntariar não é fazer caridade ou assistencialismo. São ações distintas. Assim como desejo esclarecer a ideia de que você não tem de se responsabilizar, necessariamente, por todos custos, de tudo – quando voluntaria. Há instituições, organizações, por exemplo, que dispõem de recurso e pode querer contar com o seu trabalho voluntário, mas bancando suas despesas essenciais, durante o seu voluntariado. Há muitas possibilidades.
No meu caso, atualmente, dentre minhas ações, também venho sendo convidado para fazer palestras, cursos, seminários: empresas, escolas, secretarias municipais, enfim, onde há pessoas. Afinal, se há gente, há como promover o bem. O valor, neste caso, que é acertado, é destinado a manter a estrutura vigente e o restante vai direto para uma conta, cuja existência se dá com foco na criação da OSCIP (EngelbertVoluntario).
No Projeto Engelbert Voluntário, nossas…
VISÃO: Por meio da visibilidade, no meio digital, conquistar espaço e promover palestras em empresas e instituições, onde serão compartilhadas vivências voluntariadas, educacionais e áreas afins.
MISSÃO: Incentivar a ação voluntariada entre as pessoas, com vista a construir um mundo melhor, tendo, como foco principal, fundar e implementar um Instituto de Ação Voluntariada.
Após todo este tempo (estou com 50 anos), tendo voluntariado desde os 14 anos, consigo perceber que, apesar da pouca ação voluntariada desenvolvida no Brasil, estamos conseguindo fazer mais pessoas compreenderem que voluntariar é se dar a chance de ser e fazer o outro também mais feliz.
(Facebook/blogue: EngelbertVoluntario / Instagram: Engelberschlogel)
Engelbert Schlögel
Professor, escritor e palestrante
Mestre em Educação e Doutor em Sociologia, Filosofia e Mundialização
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