FOLHA DA MULHER – FEVEREIRO/16 – COLUNA KATIA VELO

No mundo virtual, sentir e vivenciar o tempo real é muito mais difícil do que podemos imaginar!

#iLoveMySelfie

Ainda nem terminamos de pagar as contas dos presentes de Natal e já estamos no pós-Carnaval. Não que isto seja ruim, afinal num país onde temos por tradição mencionarmos que o ano só começa depois da folia desta festa, vamos enfim começar! E então pensamos: “E agora, José?/ A festa acabou/ a luz apagou/ o povo sumiu/ a noite esfriou/ e agora, José? / e agora, você? (Trecho poesia de Carlos Drummond de Andrade). Não sou a Polyana (personagem da escritora Eleanor H. Porter que só via o lado bom de tudo de ruim que lhe acontecia), mas sempre gosto de buscar o lado positivo. Afinal, o lado negro da força, além  do Darth Vader do filme Guerra nas Estrelas, todo mundo vê, fala, sente e infelizmente, está escancarado mesmo!
Bem diferente do mundo real, no mundo virtual todo mundo está sempre bem e feliz, ou tem uma resposta (ou frase) para tudo. Tudo mesmo! Há tanta gente tão “sabichona”, “mimimi”  ou parecendo o Cazuza cantando “Exagerado”. Exemplos temos muitos. Mulheres negras lindíssimas são xingadas (deve ser pura inveja), ou o oposto; dias destes vi uma youtuber desabafando, pois havia sido terrivelmente hostilizada por ter feito uma brincadeira fantasiada de negra. Estamos vivendo tempos em que nos expomos demais, um verdadeiro BBB, e isto nos deixa totalmente abertos a críticas e opiniões. Acho que o melhor é simplesmente darmos uma de Jair Rodrigues, “Deixa isso pra lá/ Vem pra cá/ O que que tem/ Eu não estou fazendo nada/ Você também”. Costumo brincar que se Jesus Cristo viesse ao nosso mundo nos dias atuais, não chegaria aos 33 anos, pois seria crucificado antes. Aliás, este tema então, PELOAMORDEDEUS! Nem dá para comentar, o céu está sendo loteado em troca de dinheiro, promessas, virgens, e por aí vai.

Outra coisa que a exposição excessiva traz:  tudo tem que ser um evento e grandioso! Um jantar com amigos, tem que ser num lugar muito bacana, com comida e bebidas maravilhosas. Nada contra, A D O R O! Mas, um belo arroz com feijão (de preferência com linguiça) um ovo frito e uma saladinha podem no proporcionar momentos memoráveis!  O mais importante é com quem você está, como naquela música antiga “Alguém com quem você gostaria de ficar/ na rua/ na chuva/ na fazenda/ ou numa casinha de sapé”. As vezes a preocupação com as fotos é tanta que a diversão fica em segundo plano. Ou ainda pior, quando você vê nem está gostando ou aproveitando o momento, mas dá aquele sorriso ou faz aquela selfie, pois você faz parte do time  #iLoveMySelfie.

Não sei você, mas se eu ficar olhando demais as redes sociais, começo a ficar com melancolia (detesto a palavra depressão ela é forte demais e traz uma carga muito negativa, já a palavra melancolia é mais suave, até poética). Todo mundo parece mais feliz, bonito, bem-sucedido do que eu. E olha que eu sou uma pessoa que adora ver o outro bem, de verdade! Juro! Sou do tipo de pessoa que fica feliz só de ver o vizinho recebendo mercadorias de uma loja. Mas, nas redes sociais o excesso de “felicidade, de beleza, de moda” dá um sentimento meio de fracasso, de vazio, de tristeza…
Por isto, recentemente, ao sair de férias, sai mesmoooo, fiquei totalmente desconectada de tudo e conectei-me totalmente em mim, na minha família! E sabe que repensando na vida e no meio das promessas de Ano Novo ao invés de fazer planos de mil coisas que quero realizar este ano e depois de três meses começar a ficar com raiva por não as realizar, sabe o que eu resolvi? Simplificar! Antes de fazer algo, vou me perguntar. Eu quero fazer isto? Isto é necessário para mim? É importante?  Parece algo simples, mas para uma pessoa como eu que se envolve em várias coisas é algo muito complexo.  Tudo isto para simplesmente escolher melhor e viver mais, mais intensamente! Numa era tão narcisista, assim como no “Mito de Narciso”, não quero morrer afogada por apaixonar-me pela minha própria imagem. Obviamente continuarei me utilizando das redes sociais, há vários motivos (e bons para isto). No entanto, acredito que o mundo real ainda é muito mais fascinante do que o virtual. Quero apaixonar-me intensamente por aquilo que permanecerá de mim, após o vento, o tempo, a morte!

6 Comments on FOLHA DA MULHER – FEVEREIRO/16 – COLUNA KATIA VELO

  1. João Fernandes Alves Neto // 11 de março de 2016 em 8:40 //

    Parabéns Katia! Um texto LÚCIDO (cheio de LUZ)… como sempre.
    Grande abraço para você e família.

  2. Querido JOÃO FERNANDES! Você é uma pessoa querida e estimada!Beijos, KV

  3. Acho que valorizar as pessoas negras é algo muito importante por como sempre dizem “a belezas está nos olhos de quem vê” o importante mesmo é vc se achar bonita .porém não concordo totalmente com a parte das redes sociais acho que se a pessoa mostra uma imagem não devemos nos sentir inferiores mas sim valorizar e ainda comentar muitas pessoas tambem podem sofrer de melancolia e postar fotos ou vídeos no Instagram Facebook YouTube WhatsApp e etc pode os alegrar .

  4. Eu acho que a internet pode nos ajudar com muitas coisas,mais cada um tem sua opinião, então eu não concordo muito com a melancolia, mas posso ter opiniões iguais, porém posso concordar que as vezes temos que desconectar um pouco????

  5. Oi Mariah! Agradeço a sua participação. Obrigada, Katia Velo

  6. Oi Isabella,

    Obrigada por sua participação. A sua participação é muito importante. Obrigada, Katia Velo

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