Danças a dois saem dos salões de baile, investem na interação com outras linguagens e são transpostas para os palcos em nova vertente artística

 

Quem nunca assistiu uma apresentação de dança de salão no meio da rua, numa festa, casa de shows, ou mesmo em algum programa televisivo? Este gênero que designa a dança executada por um par ao som de variados ritmos musicais é, com certeza, o mais conhecido entre as pessoas, mas o trabalho pioneiro de alguns profissionais do meio ao longo das últimas décadas revelou que, assim como no balé clássico, jazz e sapateado, entre outros, a dança de salão pode ser levada ao palco em uma vertente artística que utiliza os movimentos das danças a dois como ferramenta para a atuação de dançarinos em espetáculos com um enredo linear, ao invés de uma seleção de apresentações desconexas.

 

A exemplo de profissionais como João Carlos Ramos, no Rio de Janeiro; e Jomar Mesquita, em Belo Horizonte; em Curitiba, o dançarino, coreógrafo e produtor cultural Luiz Dalazen tem buscado trabalhar esta nova vertente que vem sendo chamada de “dança de salão contemporânea”. Pós-graduado em Teoria e Movimento da Dança com Ênfase em Danças de Salão, sua monografia de conclusão de curso abordou exatamente este tema. “Estamos tratando de uma nova concepção coreográfica que usa a técnica das danças a dois como ferramenta para contar uma história. Diferente de apresentações que apenas reproduzem no palco o que é feito nos salões, porém de forma coreografada, nós transpomos os movimentos de danças a dois para o palco de forma que eles deixem de ser apenas passos, mas sim movimentos que contam uma história”, explica Luiz que atua nas danças de salão há 15 anos e, em agosto, realizará em Curitiba seu oitavo espetáculo dentro desta nova linguagem. Contando com sua participação como coreógrafo, dançarino e produtor, o espetáculo “Um ano, dois meses e três semanas”, da Oito Tempos Cia de Dança, vai instigar a plateia a repensar sobre a busca da felicidade através das experiências pessoais dos dançarinos em cena.

 

A qualidade do trabalho desenvolvido por Luiz e seus colegas de cena já foi exaltada em 2012, quando o espetáculo Pétalas, do qual também participou, foi o único na linguagem Dança contemplado com o Fundo Municipal de Incentivo à Cultura, da Fundação Cultural de Curitiba. “Infelizmente ainda vivemos um momento em que a dança, dentre as artes, tem o menor investimento nas políticas públicas em suas diversas esferas e a dança de salão, entre as danças, menos ainda. Precisamos nos organizar mais para aproveitar os mecanismos existentes e nos representarmos junto ao meio artístico como uma linguagem que sim, tem muito a dizer como um produto artístico e cultural de qualidade”, relata.

 

Como toda inovação artística, o trabalho ainda é bastante debatido e polêmico no meio. Um exemplo é que, em 2012, o Prêmio Desterro – Festival de Dança de Florianópolis, que apresenta uma variedade de gêneros de dança, do clássico as danças urbanas, foi o primeiro a dividir as apresentações de dança de salão nas categorias Clássica e Contemporânea, inclusive realizando na mesma edição um debate sobre o assunto como parte da programação. “A história nos mostra que as inovações sempre sofrem alguma resistência, mas o processo de evolução é algo natural em todas as artes. Essa nova maneira de enxergar a dança de salão nesse novo ambiente ainda está em busca de sua identidade e, acima de tudo, dos seus limites. Existe espaço para quem quer trabalhar no navio, na TV ou no salão tradicional, mas é preciso apenas saber que o palco pede estudo, preparação e ferramentas diferentes das utilizadas no ambiente nativo das danças de salão”, ressalta Luiz.

 

Sobre Luiz Dalazen

Professor, coreógrafo, dançarino e produtor cultural atuante no meio das danças de salão, iniciou seus estudos no Grupo de Danças do CEFET-PR, em 2000. Desde então, atuou nas principais escolas de dança de salão da cidade, e viajou pelo Brasil e por países da Europa e América do Sul, pesquisando e estudando as danças a dois. Formado em Matemática pela UFPR, é pós-graduado em Teoria e Movimento da Dança com Ênfase em Danças de Salão pela FAMEC (2010), curso em que atualmente é professor dos módulos “Introdução ao Tango” e “Produção e Gestão Cultural”. Mestrando em Educação pela UFPR, tem formação pela Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, em Joinville, no curso de Qualificação Profissional em Tango Dança. Seu trabalho tem foco no fomento desta arte através do emprego da linguagem das danças a dois no processo de composição coreográfica, criação de espetáculos e promoção de eventos.

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