A VISTA DO MEU PONTO POR ENGELBERT SCHLÖGEL – PORTUGAL E A MIGRAÇÃO

Foto: Arquivo Pessoal Engelbert Schlögel

Partindo de Portugal…  escrevo daqui mesmo, de dentro do avião, retornando para casa, na Áustria: trago muitas memórias e verdadeira gratidão.

Portugal tem sido forte referência em meu crescimento pessoal, acadêmico e profissional.  Base permanente para estudos da língua portuguesa – nomeadamente na constelação comparativa entre os portugueses de Portugal, Brasil e dos países do PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa). Isso me permite transmitir aos meus alunos uma visão abrangente, não apenas do idioma, mas também cultural.

Estudar as vertentes linguísticas deles renova em mim, continuamente, o ato de saborear conhecimentos sobre cada detalhe da vida dos falantes do português pelo mundo. Viajar por meio do aprendizado de um idioma é conquistar riquezas e amadurecer a mente e o coração.

Foto: Arquivo Pessoal Engelbert Schlögel

Penso ser interessante mencionar que o fato de a língua portuguesa contar com uma única normatização de sua gramática (norma culta) – para os nove países falantes oficiais – não impede que a cultura de cada um deles (Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Timor Leste, Guiné Bissau e Equatorial, e São Tomé e Príncipe) se comporte linguístico e culturalmente como sempre fizeram, no seu cotidiano. Ou seja, os costumes mantêm acesa a alma de cada povo. São vidas de cerca de 290 milhões de pessoas credibilizando suas essências culturais e exercendo presença forte nesse “mundão de Deus”. Palmas para o fato de que, ainda que nem sempre seja respeitado por isso, o português ocupa a sexta colocação entre todos os idiomas falados no mundo.

Foto: Arquivo Pessoal Engelbert Schlögel

Ainda sobre o “meu” Portugal, essa terra acolhe pouco mais de dez milhões de portugueses que, na maioria, respeitam suas tradições como em poucos lugares que conheço. O modo de ser do povo português chega a ser requintado na forma de compartilhar o seu cotidiano, por meio de sua imponente cultura, especialmente em suas linguagens culturais (as artes plástica e cênica, música, dança e literatura), gastronomia riquíssima, e mais. Vivo na Europa e por mais que reconheça que, economicamente, Portugal viva (sempre) em crise, permanece, entretanto, uma verdadeira joia no continente europeu!

Foto: Arquivo Pessoal Engelbert Schlögel

Nos anos em que lá estudei e trabalhei, aprendi que Portugal não é apenas o berço da civilização da língua e cultura portuguesas, mas, muito mais, uma terra de gentes do bem. Muitas vezes com o ânimo alterado (o português pode parecer bem brabo e, até pessimista; mas, no fundo, isso não passa apenas do seu ‘jeito de ser’…), o que faz parte da essência do povo.

Foto: Arquivo Pessoal Engelbert Schlögel

Atualmente, há uma intensa movimentação em torno da presença de “excessivo” número de imigrantes em Portugal. Assunto muito polêmico (assim como em muitos outros países pelo mundo). As controvérsias são inúmeras e a desvalorização do imigrante, por lá, muitas vezes, é fato.

A verdade é que, nem sempre, seja em Portugal, no Brasil (…), ‘toda gente ‘é bem acolhida ou acolhe bem. E os valores, costumes que todos carregamos determinam o que vemos e sentimos; ou seja, conviver com migrantes não é tarefa sempre simples, mas muito menos simples é a nova vida do migrante e as razões (muitas vezes impiedosas) que o levaram a migrar.

Fato curioso e que é preciso considerar, é a presença dos mais de 400 mil brasileiros em Portugal: bem marcante. Em contrapartida, quantos milhões de lusodescendentes se encontram no Brasil? Certamente, um número bem maior do que toda a população de Portugal!

Foto: Arquivo Pessoal Engelbert Schlögel

Toda busca em terras outras acontece porque o homem é diásporo, por natureza, e tem – ou deveria ter – o direito de buscar ser (mais) feliz. Mas o risco é sempre imprevisível, quanto à imigração, tanto para quem quer ser acolhido quanto para quem acolhe – insisto.

Como profissional e constante voluntário, venho me dedicando a causas que envolvem exatamente este dito ‘acolhimento’ pelo mundo e é nela que me debruço, sempre que posso. É importante compreender que a mundialização (assim como a globalização) seja um dos principais temas da atualidade. E Portugal e o Brasil são referências nesse tema.

Tem sido gratificante conviver e aprender com gentes de alguns países, por onde tenho andado, ou com cidadãos desses mesmos e outros países que acabam sendo meus alunos ou com os quais voluntario. Gosto muito de um termo que é ser um homem de “pertença repartida” e, assim o sendo, penso que consiga compreender melhor os migrantes pelo mundo.

Entre idas e vindas a Portugal, Engel criou laços como a senhora imigrante da Angola
Foto: Arquivo Pessoal Engelbert Schlögel

Engelbert Schlögel

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